sexta-feira, março 25, 2005

Mar adentro

Vou escutando o mar, aqui sentado nestas quentes areias de Verão tropical, olho para lá do horizonte e recordo a casa deixada para trás. Retrocedo três meses, a água batia no casco de um barco, o mar estava bravio, duas caras amigas me acompanhavam, tantas outras me olhavam. Tudo escureceu, foi assim há três meses, não sei bem que depois aconteceu.
Acordei nesse mesmo dia, dentro de uma ambulância, uma enfermeira falava comigo, sentia-me drogado, distante dali. Voltei a adormecer, para mais tarde acordar, agora mais ali, psicologicamente presente, fisicamente abatido e emocionalmente desfeito. Tinha perdido uma amiga naquela tarde, a bela Diana morrera, jazia agora nas turbulentas águas do Atlântico. Tinha a companhia de outras adversidades, um navio destruído, corpos mutilados, foi assim que tudo acontecera, como tudo desaparecera. Susana e Daniela, tão sensuais, tão letais, eram agora duas agentes mortas, antes amigas, cruzaram o mesmo destino da minha verdadeira amiga Diana.
O mundo não acabara ali, continuava a girar e ninguém reparava.
Patrícia vira a irmã morrer, sem nada poder fazer, guardou para si o que sentia, fria mas doce, sentia nas suas palavras perdidas um turbilhão de emoções. Não mais a vi, naquela tarde tudo aconteceu, deixou-me partir, não me despedi. Tirou-me dali, fugiu com os seus, sentia nesta memória ainda vivida, a dor que me infligira, noutro dardo, outra solução que me fizera adormecer, mais uma vez sabia que iria desaparecer. Por ela, ali fui parar, por ela, dali me consegui largar.
Ficara caído, adormecido, nas areias de uma praia, distante desta de onde tudo recordo agora, abandonado à minha sorte, foi assim que tudo acontecera. Voltei à ambulância, esta recordação persistia, nada mais dali me lembrara para além de algumas palavras da enfermeira, eram soltas para mim, não as percebia, que me levavam a recordá-las eram ela, a enfermeira. Seria isso, enfermeira, doce tentação, a minha paixão, Elsa. Não era ela que me acompanhava e auxiliava naquela ambulância, também ela fora envolvida em tudo aquilo, fizera-me companhia momentos antes na praia, não nesta distante de onde tudo recordo.
Fomos resgatados do barco da Agência, salvos por outra Agência, que nos deixara ali jogados, abandonados e drogados, seguiamos agora para qualquer lugar, somente nesta recordação.
Horas mais tarde, acordei no Hospital, foi assim há tempos atrás, aqui estou eu nestas areias de Varadero, recordando a vida que deixei para trás. Procurei pela Elsa, estávamos despertos, tudo passara, tudo finalmente acabara. O tempo passou, deixou-nos mazelas, os corpos doridos, os sentimentos feridos.
Foi assim que tudo acontecera, três meses antes, vou recordando, o mar escutando e por estas memórias me levando. Abandonei aquela vida, fugi, quis correr, alto gritar e meio mundo abandonar. Acobardei-me com as evidências, vendi o carro, amealhei todos os meus fundos e aqui para Cuba me vim perder.
Não me arrependo, lamento o amor que deixei, o curso que abandonei, toda a vida que larguei. Tudo mais para trás deixei, apenas com a Elsa realmente me importei.
Por onde andaria ela agora? Sinceramente, não sei.
Vim para estes trópicos, há pouco mais de dois meses, desde então, as portas do meu mundo fechei. Fui bem acolhido por estes lados, cheguei feito pé descalço, sem rumo ou direcção, de futuro pendente, vivendo uma aventura. Arranjei trabalho num bar da praia, trabalhava para comer e beber, acabava sempre por foder.
Saltava constantemente de trabalho em trabalho, corria pensões, fodia multidões. Tudo demasiado depressa se passava, fugi dum inferno para me colocar noutro, sentia-me perdido, talvez abandonado. Numa destas noites, de fresca memória, há duas semanas antes apenas, deixara-me levar pela emoção, metera-me em confusão e dei por mim caído, esmurrado e largado, numa calçada da praia. Alguém me acudiu, as suas mãos do chão me levantaram e recolhi para uma casa. Não sabia para onde entrava, parecia uma discoteca, o som, as luzes e todo ambiente psicadélico passavam-me ao lado, vagueava naquele corredor, nos braços de alguém. Acomodei-me num sofá de escritório, só mais tarde reparei quem me recolheu das ruas, da chuva que caía lá fora, me salvava agora. Era uma bela mulher, cubana e trintona.
Passo a mão ao de leve na areia, parei de recordar, parei de sonhar, volto a escutar o mar, vejo somente as ondas tudo levar.
Levanto-me das areias desta praia, levantei-me daquele sofá, as memórias persistem, ajeito a roupa e arranjo-me para o trabalho, limpei a cara esmurrada da noite amarguradamente vivida e arranjei trabalho. Dirigia-me agora para aquele local, onde passado e presente se cruzavam, bem permanente na minha mente, bem debaixo dos meus pés. Entro de momento naquela discoteca, caras agora familiares me sorriam, a mesma porta de outrora se avizinha, o mesmo escritório me esperava. Lá estava Maria, a doce mulher que me salvara de uma noite passada ao relento. Acolhera-me no seu bar, comecei simplesmente servindo bebidas, mas após uma noite calorosa passada na conversa, neste mesmo escritório, trocando cumplicidades, olhares indiscretos e carícias... Não, nada de mais aconteceu, continuo servindo bebidas.
Maria geria este estabelecimento, propriedade do seu irmão Antony, um jovem putanheiro. Era uma discoteca bastante movimentada, aqui nesta praia plantada, demasiado vigiada, ferozmente policiada. Antony deveria ter os seus contactos, ligações obscuras, eu tudo desconhecia, de nada sabia.
A noite caíra, chegara da praia, neste dia de muito calor. Iniciava o meu trabalho, quando o Sol se punha, a noite nascia, para muitos o dia morria.
Era véspera de fim-de-semana, novos turistas chegavam à Ilha, outros tantos regressavam a casa, tantas caras renovadas, tantas sensações originadas. A noite corria como de costume, álcool escoado, muitos fígados estragados, alguns amores criados. Bastante gente nova por ali se encontrava, muita língua se escutava. Ouvi sons da minha terra, de todos os cantos ecoava, soube bem esta aproximação a casa, uma vez mais não me arrependia, mas sempre que esta língua ouvia, o forte calor do lar sentia. Segui aquelas palavras, recolhia copos atrás de quem as proferia, tocava em corpos por onde batia, um casal de portugueses via, novos, da minha idade. Eles pararam junto do meu bar, atravessei o balcão e atendi-os com gentileza.
Francisco e Ana Luísa, vinham com uma amiga de ferias, esperavam ainda por ela e ali se entretinham.
Olha Francisco, lá vem ela! – exclamou Ana Luísa.
No meio de tanta luz, entre tantas caras, nada reparei, ninguém vi. Virei costas, afastei-me e o meu trabalho continuei.
Olá, João.
Continuei de costas voltadas, o meu nome escutei.
Era ela, não podia acreditar, uma amiga que deixara três meses antes, prima da falecida Daniela, sim ela, a Filipa. Que faria ela por estes lados? De tanto sítio interessante para umas boas férias passar, teria logo de ser para onde me vim refugiar.
Fiquei sem palavras, algo desapontado, mas emocionado.
Não consegui conter em mim um turbilhão de emoções, relembrei o seu gosto, o seu toque, momentos bem passados em plena faculdade, deixei cair uma lágrima.
Doce loirinha, também dela fugi, a sua proximidade com a vil Daniela levou-me a não saber como reagir com ela, como agora, fiquei calado. As minhas palavras não saíam, a sua boca mexia, as suas saíam, mas não as ouvia. De repente, o som da discoteca regressou aos meus ouvidos, Filipa fazia-se novamente ouvir, tudo em mim acalmou.
Então, João, não me vens dar um beijo?
Escutava cada palavra, era uma emoção, não me mexia.
Acalmei, a paralisia deixava de se sentir, avancei para a minha amiga, fugida do meu mundo, mas nunca esquecida. Abracei o seu corpo, os nossos lábios afastaram-se das faces emocionadas de cada um e ali ficámos, assim agarrados, abraçados.
Que tens feito? – perguntava ela.
Continuava submerso em palavras, permanecia paralisado no calor do seu corpo.
Nada. – respondi vagamente.
A noite continuou, inventei uma desculpa e ausentei-me daquele balcão, fugi, novamente. Entrei no escritório da gerência, lá me sentei, estava nervoso, pensando na vida, que agora meio mundo sabia onde me encontrava, sim, do meu mundo.
A casa estava demasiado movimentada naquela noite, Maria mandou-me levantar daquele descanso mental e voltar ao activo, iria regressar não só para o bar, mas reencontrar o meu passado.
Filipa e o casal amigo permaneciam por perto, sorriu quando me viu chegar, não sabia como me expressar. Eles por ali ficaram, quase nada da noite aproveitaram. Falámos de tudo, falámos de nada, contámos experiências, matámos saudades.
O meu turno acabou, a calma ao meu mundo regressou. Saímos os quatro da discoteca, o casal voltou para o Hotel, Filipa insistiu ficar comigo a conversar.
Passeávamos pela beira-mar, as luzes desligadas da praia escondiam o que naquelas areias se passava, a vida que se criava, o amor que se fabricava.
Anda, vamos passear pela praia.
Sim? E até onde vamos? – perguntava Filipa.
Não sei, até onde queres ir?
João, isso é uma proposta indecente?! – Filipa sorria.
Sim, apetece-me fazer amor contigo. – disse-lhe, olhando nos seus olhos.
Filipa corou, baixou lentamente a cabeça e molhou os seus lábios com a língua.
Assim ficámos uns segundos, aguardando por um avanço de alguma das partes, os nossos olhares desviaram-se, olhávamos para a areia distante e alguns casais passeando junto ao mar.
A menina pegou-me na mão e levou-me ela a passear pela praia.
Descalçámos os sapatos, foram connosco nas mãos e afastámo-nos das luzes de Varadero. A areia estava húmida, não fria, confortável e acolhedora para os nossos corpos. Caímos no chão perdidos em beijos, rebolámos e então parámos... Fiquei a olhar deslumbrado para o reflexo que a Lua fazia no seu rosto, simplesmente lindo.
O seu cabelo loiro cobria-me as mãos, estas deslizavam para o seu pescoço, os meus lábios iam acompanhando todo o seu corpo... As roupas depressa nos abandonaram, os corpos deixaram de estar adormecidos, entravam agora em sintonia.
Fizemos amor, naquelas areias, por noite dentro. A temperatura baixara, o céu permanecia escuro, ninguém nos rodeava. Por ali terminara, mas não acabara, pegámos nas nossas roupas e acompanhei a Filipa ao seu Hotel.
Despedimo-nos à porta, ela entrou para o edifício e desapareceu pelos corredores, caminhei para longe, tinha a minha casinha alugada junto à praia...
Sem pensar, voltei então atrás e aproximei-me daquele ponto de despedida, Filipa esperava-me à porta, como se pressentisse que aquela noite não acabaria ali, deitada naquela cama sozinha.
Não acabou mesmo, subimos para o quarto, o casal amigo já dormia, tentámos não fazer muito barulho, mas o instinto carnal assim não o permitiu, deixámos que a leveza do acontecimento nos levasse.
Acordámos na manhã seguinte pela Ana Luísa, a bonita amiga da Filipa.
Estávamos destapados, os nossos corpos nus captavam todo o Sol daquele novo dia solarengo, igual a tantos outros. Filipa despertou e beijou-me o pescoço, estava de lado voltado para si, fez com que tivesse um doce acordar, depois de um pouco de vergonha sentida pelas palavras de gozo da sua amiga.
Encostei a mão no seu rosto...
Filipa, sinto-me deslocado da minha nova realidade.
Não sei se estou preparado para isto. – confessei-lhe.
Achas que vamos depressa demais? – perguntou ela.
Não sei... – sentia-me preso nas palavras.
Shhh... Cala-te e beija-me. – disse Filipa, chegando os seus lábios aos meus.
Beijei aquela boca, simplesmente irresistível, ali fiquei perdido.
Eram quase horas de almoço, tinha de passar pelo bar. Peguei nas minhas roupas e saí para a rua. Fugi daquele quarto, não havia alguma necessidade de me ausentar, tudo forcei para que houvesse. Uma vez mais fugi, não da Filipa, mas do que me fizera relembrar.
Maria sorria para mim, sabia que algo de novo me tinha acontecido, sabia da Filipa, sabia do que lhe contara, sabia agora o que se passara. Já antes lhe havia falado de casa, do que para trás deixara, de todo o mundo que abandonara... toda a minha vida, o meu passado. O seu instinto maternal era fenomenal, sem nunca ter tido filhos, tratava os seus colaboradores como jovens meninos, dava todo o seu carinho, assim aconteceu comigo.

Passou uma semana que a Filipa chegara a Cuba, houve algum romance entre nós, palavras de ocasião, sabores da minha terra, fluidos trocados, sentimentos misturados. A bela loira partia para Portugal no dia seguinte, levava o casal amigo consigo. Maria e Antony convidaram-me e aos meus amigos para um passeio de barco, uma despedida para eles, um conforto e atenção para mim.
Almoçámos todos juntos, saímos de barco pela costa, para conhecer todas aquelas paisagens, ver de longe as gentes daquela terra, conhecer todos os recantos que a suportam.
A viagem prolongou-se por tarde fora, o céu escuro chegava e a Lua baixava.
Filipa brincava comigo, tentava beijar-me, mordia-me as orelhas, passava de leve a língua no meu pescoço... sempre a afastava, ela sempre voltava.
Deu-me vontade da beijar, devorar aquele corpo acalorado, linda e apetitosa, não sabia como tanto me continha, num desejo tão ardente.
Que se passou connosco, Filipa? – interrompi-a numa das suas investidas.
Como assim, João?
Perdemos o nosso encanto, não achas? – perguntava-lhe.
Não te percebo. – abria ela a sua boca linda.
Falta-nos algo, não namoramos, não há carinho, falta toda aquela brincadeira que em tempos apreciámos...
Não escolhia as palavras, mal sabia o que lhe dizer.
Não digas isso, João. Gosto de ti, de brincar com o teu cabelo, enrolá-lo nos meus dedos, morder os teus lábios...
Adoro fazer amor contigo. – dizia Filipa.
Deixei que um pouco de calma regressasse à conversa, peguei numa bebida e saboreei um pouco do seu sumo.
É tudo tão pouco natural, minha doce amiga.
Gosto imenso de ti, mas ficamos por aqui.
– acrescentei.
Ana Luísa olhava discretamente para toda aquela cena, com uma expressão doce e enrolando os seus lábios. Francisco pouco se importava, levantou-se e foi beber outra lata de cerveja com o Antony, que por estas horas conduzia o barco num avançado estado de embriaguês.
A festa continuava, algumas emoções estavam em alta, as minhas em baixa, uma nostalgia enorme apoderava-se de mim, controlava o que pensava, seguia-me por onde andava. Filipa falava novamente comigo, Ana juntava-se às suas palavras.
Pedem-me para regressar, mas lá não quero voltar. Deixo-me esquecer daquelas palavras, prefiro ver ao longe o mar, imaginar o que para lá está e tento me distanciar.
Não, não quero voltar. – respondo, bruscamente, à Filipa.
A doce rapariga olhou-me nos olhos, sentia agora o peso da minha teimosia. Nada mais se falou, o assunto ficou por ali, voltámos aos cocktails deliciosamente preparados pelo Antony.
Escoávamos álcool como parvos, bebíamos sem controlo, a noite caía de vez, eram horas de regressar, tudo parecia nevoeiro à volta, não sabíamos onde iríamos acabar. Pensava nos gatos, sim, no que me fui lembrar. Queridos companheiros que lá deixei, naquela terra de problema, naqueles recantos de emoção. Por aqui fiquei, lá os deixei.
A viagem de regresso prosseguia, outros barcos apitavam, novos iates também ao porto regressavam, tantas outras festas se desenrolavam, eram gentes que nos falavam.
Oh não, tanto recordava, apenas um pensamento focava e tanto me lembrava, muito na minha cabeça se desenrolava, somente ali chegava... De tanto fugi, abandonei, larguei e corri, apenas dela me lembrava assim, foi então que vi, teria de voltar ali. Tudo se alterou, porque fui eu pensar nela...
Filipa, regresso contigo amanhã. – disse para a minha amiga, agora mais calmo.
Ela nada disse, deveria estar cansada das minhas indecisões, limitou-se a sorrir.
Chegámos a porto seguro, o mar permanecia calmo, a agitação vinha dos barcos, das festas que agora acabavam, de algumas que então começavam, de tudo o que víamos, de tudo o que se escondia.
Porque o tempo tem asas, fugi sem deixar destino ou direcção, de tudo o que vi nada me fez esquecer o que em tempos deixei.
O barco atracou, saltámos para terra, aquele belo sítio que me viu chegar, que agora se preparava para me ver partir. Despedi-me calorosamente de Maria, esta doce mulher largou uma pequena lágrima, pediu-me que pensasse, agarrou-me para que ficasse. Antony, mais descontraído e bastante alcoolizado, sorria e dizia-me que tudo correria bem, estaria ali uma casa sempre aberta. Entre soluços, pegou numa lata esquecida de cerveja e entregou-me amistosamente...
Vaya con Dios, mi amigo. – despedia-se ele.
Caíram-me as lágrimas no caminho de regresso à pensão onde tantas noites chegara embriagado, afortunado das noites quentes, triste de saudades distantes, tocado por calores tropicais... de tudo e mais alguma coisa que vivera nestas terras prestes a ser deixadas. Troquei tudo por um mar, aqui distante, senti nesta terra o calor do Sol, o frio da noite, o azul do mar e o prazer de tantos corpos. Sentia agora mais falta do que para trás deixara, das vidas levadas por quem gostava, dos amigos que deixara de ver sorrir, dos amores que nunca vira partir, das saudades que deixava surgir.
Cheguei ao meu cantinho de descanso, isolado da confusão da praia, longe do hotel da Filipa, sozinho e somente entregue a quatro paredes. Peguei no telefone, marquei um número que nunca esqueci...
Olá, Elsa.
Fez-se silêncio nos dois lados da linha.
João?! – perguntava Elsa.
Sim, meu docinho.
Apeteceu-me qualquer coisa, algo doce, algo teu. Não estavas.

O silêncio instalou-se novamente, aumentava a enorme distância que nos separava.
Espero aqui por ti, meu amor, repousado e já acomodado a olhar para ti de longe, nesta minha mente, vendo-te passar, mas sem nunca chegares. – acrescentei.
Porquê só agora, João? Tanto tempo deixaste passar...
Ela perguntava bem, não tinha resposta para lhe dar. Nem eu sabia porque deixara passar tanto tempo sem lhe falar, tantos meses de ausência, uma vida inteira de paixão se dissipava em poucas palavras...
Não sei, Elsa. Julgo ter saudades, penso que sim, será de algo.
Pensei em ti, mas não estavas.
– respondi, vagamente.
João, ainda gostas de mim?
Gostava dela, como sempre, como nunca, de uma maneira avassaladora.
Sim... Por tantas vezes me vi rodeado de outras mulheres e senti a tua falta, minha querida.
Quase sempre distante dali, perdendo-me a pensar em ti. – perdia-me agora nas palavras.
Elsa nada disse, ficou suspirando.
Volta, João... – disse ela, na sua voz doce.
Não contive em mim as lágrimas que tanto sequei durante estes meses todos, fiquei emocionado, escutar a sua voz deixou-me de rastos, sem reacção, não sabia que custaria tanto.
Elsa, porque acreditas tanto em mim?
Alguém tem de acreditar, meu querido.

Desligámos a chamada, sabia que a veria em breve. Nada lhe disse sobre o meu regresso.
Caí naquela cama onde dormia há semanas, não teve o mesmo sabor, sentia-me triste por tudo aquilo abandonar, mas queria retornar. Cansado e destroçado, deixei-me então adormecer, nada recordo dessa noite, algo veio ao meu encontro e foi aumentando, mais e mais, a escuridão. A manhã seguinte depressa surgiu, o negro visto durante toda a noite dava agora lugar às pobres cortinas do meu quarto, havia todo um mundo que acordava lá fora, toda uma vida que se iniciava, era a minha que ali acabava.
Fiz a minha mala, não tinha muito para lá colocar, apenas recordações a carregar.
O dia estava cinzento, sentia-me triste por partir, alegre por regressar, não sabia como me sentia, estava assim, sem saber bem para que fim.
Esta terra tocou-me, todas as suas gentes, todas as suas beldades, em boa sorte aqui vim ter.
Parto hoje para casa, uma vez já o foi, será que me aguarda? Será que alguém me espera?
Vou assim, Filipa diz-me que sim, vou vivendo emoções sem fim.
No Aeroporto, os aviões chegam e vão, não esperam pelas incertezas, não esperam por gente como eu. Tanta gente circula, as pessoas perdem os rostos, tornam-se mercadorias, viajam entre pontos, comportam-se como tontos. Incluo-me nesse grupo, estou perdido aqui, Filipa acompanha-me, Ana Luísa e o namorado vão descansando na sala de embarque, para onde nós vamos andando. Ali ficamos, assim estamos, a noite prolonga-se, o voo atrasa-se, a vontade de regressar acaba-se. Encosto no peito macio da Filipa, fecho os olhos e deixo-me adormecer.

5 Comentários:

Blogger John Akura disse...

Espero que gostem da história, após tanto tempo de ausência, há coisas que se perdem pelos momentos, outras que se aprumam e se mostram de momento.

5:12 da tarde  
Blogger vi disse...

axo k kontinuas lá, puto =) has de me dzr d od sacas tanta inspiração. lol kd tiveres tempo fz um visitinha ao meu blog, n tnh tanta imaginação cm tu, m arranja s alguma coisita. lol bj

9:11 da manhã  
Anonymous Anónimo disse...

Epa tas com uma ganda moca pá! O alcool faz-te mal LOL :P No gozo ;)

É bom ver-te de volta, já fazias falta ;) Eu vejo que andas com a inspiração no fundo, não sei porque mas também eu quando fico sem inspiração faço posts que se fartam de rimar LOOOOL. Esse teu está sempre a rimar em ar já viste? LOL

Btw bom ver-te de volta agora sai-me de cuba que isso faz-te mal LOL, o akura ficou mesmo a bater mal com aquela cena do barco :P

10:02 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Após muito insistires e deixares de insistir, decidi passar por aqui e perder 15 minutos de vida, quando cheguei ao final do texto apercebi-me de que valeu a pena. Estás cada vez melhor, apenas acho que a parte inicial está um pouco atrofiante, mas vocês os escritores, são mesmo assim...whatever...
Quase deixei cair uma lágrima ao ler o texto, o mesmo tem uma carga emocional muito forte; fico triste por não ter visto aqui um comentário daquela que se esperava que fosse a primeira a comentar...
Tens pequenas frases dispersas no texto que são simplesmente geniais como por exemplo:
"Passeàvamos pela beira-mar, as luzes desligadas da praia escondiam o que naquelas areias se passava, a vida que se criava, o amor que se fabricava." entre outras...

Abraço

6:06 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

ganda moka....., na volta devias largar as gajas =) e escrever algo mais errr como diria vendável ;)


[]

Jet

10:09 da tarde  

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