sábado, fevereiro 28, 2004

Visita de estudo

Acordei de madrugada, nem três horas tinha dormido nesta noite, estava aflito para mijar.
Pouco passava das nove da manhã, saltei da cama e fui descarregar litros de destilação pela sanita abaixo. Aproximei-me de uma janela aberta, estava frio na rua mas todo o meu corpo fervia, tinha sonhado com a minha querida Elisa e ainda sentia o seu cheiro.
Comi qualquer coisa e tive de levar o carro à oficina para me concertarem o vidro partido, na porta do condutor. Sabia que o carro teria de lá ficar, por isso, telefonei ao meu amigo Zé Luís a pedir-lhe boleia de retorno a casa. Ele concordou e esperou-me na oficina.
Já não via este gajo há mais de duas semanas, as minhas aulas na faculdade tinham começado e tinha cada vez menos tempo para passar com os amigos, o pouco que tinha tentava gastá-lo na companhia de umas conas boas.
Combinámos uma saída para aquela noite, tentar retomar os bons velhos tempos.
Tinha já marcado um jantar com a Elisa mas prometi encontrar-me com ele e a namorada mais tarde, num bar do Barreiro.
A tarde passou a correr, ao fim da mesma, fui buscar o meu carro à oficina.
Tratei de ir buscar a Elisa ao Hospital, o turno dela tinha acabado as 16h30 e passámos a tarde juntos a passear pelo parque da cidade enquanto fazíamos tempo para um jantar a dois, num restaurante qualquer.

Cheguei ao Portão acompanhado pela encantadora Elisa, o jantar tinha sido bem regado e encontrava-me já um pouco embriagado. Elisa também vinha sorridente mas não sob o efeito do álcool, era mesmo a sua doçura natural.
Próximo da entrada do bar, estava o carro da Paula, namorada do meu amigo Zé Luís. Sabia também que outro amigo meu tinha vindo com eles, o Hugo, falou comigo de tarde e estava ansioso por conhecer umas gajas novas.
Entrámos no bar, alguns olhares indiscretos galavam a doce Elisa, cumprimentámos a minha amiga Valu que estava ao balcão e a Elisa subiu de imediato as escadas, para junto dos meus amigos.
Fiquei um pouco à conversa com a Valu, já não a via desde a nossa última aventura na praia e um sentimento de nostalgia começava a ser cada vez mais presente e desejava ardentemente repetir todos aqueles momentos excepto a chatice de no dia seguinte ter de passar a manhã inteira a tirar terra dos tomates de tanto roçar na areia molhada da praia.
Pedi-lhe uma bebida, ela preparou-me um Blue Lagoon.
Andas-te a esticar, baixinho! - dizia a Valu, sorrindo depois.
Porque dizes isso? - perguntei-lhe eu.
Eu vi a maneira como entraste com a Elisa, qualquer dia o namorado dela faz-te a folha. - acrescentou a Valu.
A minha amiga esboçava agora um semblante mais sério e de alguma preocupação.
Não te preocupes. Deixa que ele não me inutiliza para as tuas necessidades. - disse eu, brincando com ela.
Ai João... malandro. Se ele te estragasse qualquer coisa aí em baixo, seria eu quem dava cabo dele depois! - finalizou a Valu, desmanchando-se toda em risos descontrolados.
Ela voltou para o trabalho, eu subi as escadas até ao primeiro andar e fui de encontro aos meus amigos.
Estavam todos de copo na mão excepto as meninas, a Paula permanecia ainda na indecisão em relação ao que pedir para beber e eu levava uma garrafa de água para a minha doce Elisa.
O ambiente era de felicidade, todos riam das piadas abixanadas do Zé e íamos despejando copo atrás de copo dentro dos nossos corpos ressequidos. Os lábios molhados da Elisa incendiaram o meu pescoço, crescia dentro de mim uma chama ardente e o elevado teor de álcool que corria nas minhas veias era um combustível perigoso que quando ateado, já não saberia como o extinguir nem onde me levaria... talvez para algum beco mais discreto ou uma casa de banho menos concorrida. Nós mantínhamos uma relação secreta, aparentávamos somente amizade aos olhos de todos e nenhum dos nossos amigos sabia que nos andávamos a comer. Tive um certo receio que estivesse algum conhecido do namorado da Elisa ali no Portão mas que poderia eu fazer, esta mulher dava comigo em doido e qualquer risco era bem compensado pelo calor dos seus beijos.
O tempo passava ao sabor de bacardis e vodkas com alguns suminhos pelo meio, para as meninas.
Oiçam lá, estou com uma fome do caralho! - exclamava o Hugo.
Calma, já vamos todos comer ali na tasca do Jaquim Porco. - disse eu.
Não, foda-se, é fome mas de cona. - continuava o Hugo a insistir na mesma merda.
Eu também já papava qualquer coisa...
Ando há mais de vinte anos agarrado à punheta.
- tinha agora também a ajuda do Alexandre.
Estava tramado com estes gajos, com raparigas na mesa e eles a falarem de idas às putas.
Até acabei por achar uma certa piada àquela conversa de merda mas mantive a minha opinião que aquilo dava muito mau aspecto.
O Zé ria-se da situação, o álcool por ele ingerido também não lhe permitia fazer outra coisa mas as meninas mostravam-se muito serenas e pouco sorridentes. Eu e a Elisa queríamos aproveitar bem a noite de maneira a estarmos máximo de tempo possível juntos e afastei-me logo das intenções daqueles dois punheteiros. A Paula, já chateada com a conversa, ficou ainda mais fodida com a situação quando o Zé se disponibilizou a transportar o Alexandre e Hugo ao Pinhal de Coina, local típico de paragem de putas.
O Alexandre ficou logo todo excitado, se fosse gaja estaria com o pito aos saldos, porque deles três só o Zé tinha carro.
De contentamento, pediu uma nova rodada de bebidas à sua conta.
Estávamos todos enfrascados em álcool, muitos litros do néctar dos deuses estavam a ser destilados dentro dos nossos corpos. Alterou-nos por completo, aquilo que parecia uma íntima relação de amizade entre mim e a Elisa descambou numa forte paixão, pouco tempo demorou até nos expormos completamente. Fiquei completamente a ferver quando a Elisa passou suavemente a mão pela minha perna, por maior que fosse o nosso esforço em manter as aparências, o contacto físico era inevitável. Na frente de todos, deixei cair a minha cabeça no seu ombro e esperei pelo doce calor dos seus lábios nos meus. A excitação era mais que muita e só não lhe saltei para a espinha logo ali devido à enorme assistência presente no local mas a vontade aumentava a cada fluido trocado pelos nossos corpos. Os outros em volta não demonstraram cara de espanto, talvez já desconfiassem ou mesmo pensavam que éramos namorados de verdade desde o momento que nos viram chegar juntos. Decidimos não beber mais naquela noite, queria estar minimamente capaz para lhe saltar em cima.
Eram quase três da manhã, estava na hora de mudar de sítio.
Saímos do abafado Portão e descemos as escadinhas que nos levariam à porta da discoteca.
O Hugo lembrou-se que tinha os tomates atestados e insistiu com o Zé Luís para que o levasse de carro até ao Pinhal de Coina. O rapaz transpirava testosterona por todos os poros, o Alexandre também tinha saído do bar com a intenção de ir vazar o enorme inchaço de vinte anos que transportava em cada colhão, tinha feito a barba e até mesmo tomado banho, estava todo queque e iria tentar papar uma puta qualquer.
Vou todo bonito, talvez arranje mais barato. - disse o Alexandre, coçando depois a virilha.
A Paula quase queria bater neles dois mas o Zé acabou por lhes satisfazer a vontade.
Foram os três a caminho das putas, no Pinhal de Coina.
Na rua, à porta da discoteca, permanecia a Elisa, a Paula e eu. Entrámos sem qualquer dificuldade na Carvoaria apesar da nossa aparência embriagada, esta discoteca é uma das poucas da zona. No entanto, o nosso pensamento ia com aqueles que agora se aventuravam por outros caminhos, esperávamos que tudo corresse bem com os outros malucos.
Eles estavam completamente bêbados e o Zé não estava em condições de pegar num carro.
Passou-se uma hora sem qualquer notícia deles, descemos para a pista da discoteca e dançávamos ao som de house music.
A Elisa foi com a Paula buscar uma bebida e eu fiquei sozinho na pista.
Entretanto apareceram duas pitas com cara de esfomeadas, eram girinhas mas ainda lhes faltavam 20 quilinhos naqueles corpos para serem alguém. Ainda pensei que tivesse algum puto chavaleco atrás de mim e elas fossem na direcção dele mas não foi isso que aconteceu. Encostaram-se a mim e como se nada se tivesse passado, começaram a dançar. Isto talvez fosse o joguinho de sedução agora em moda nas escolas da chavalada mais nova. A Paula e a Elisa estavam demoradas para o bar e também não quis permanecer inculto para o resto da vida, muito menos não acompanhar as novas tendências da moda, nem mesmo que fosse esta merda.
Uma delas, a menos gira, lançava a outra contra mim como se fosse sem querer. Já que tinha permitido isto, agora também queria ver até onde elas iriam.
O tempo ia passando e as pobres raparigas não faziam progressos, talvez tivessem aprendido mal a lição com as pitas mais velhas, porque essas apesar de ainda serem novinhas, já são umas grandes cabras e fodem tudo o que tenha menos de três olhos abertos.
Às tantas já me estava a chatear e aborreci-me quando levei pela décima vez com os quarenta quilos da pita. Parei de dançar e com um olhar de sério perguntei-lhes o que se estava a passar. As miúdas não sabiam o que dizer, uma delas ria-se e a outra parecia um tomate de tão embaraçada que estava. Tinha que mandar qualquer boca estúpida para correr com elas dali, estavam a espantar a caça mais graúda, não que me fizesse qualquer diferença naquele dia, estava bem acompanhado pela Elisa.
Apontei para um puto novito com cara de desastre violento no IP5 e disse para elas...
Ali o teu namorado é que parece não estar a gostar muito das vossas brincadeiras.
Eu até o compreendo, se namorada minha estivesse a falar com um gajo bonito como eu, certamente também não acharia piada.
Vocês até têm um cú jeitoso mas pouco mais.

Olharam uma para a outra e foram a correr na direcção do bar.
Tinha finalmente espantado as pitas, não se pode ser simpático com estas gajas, pensam logo que as queremos comer.
Pouco depois chegou a Elisa, a Paula tinha ficado pelo bar, entregue aos prazeres da bebida.
A noite entrava pela madrugada dentro e quando já nada fazia prever, recebi um telefonema. Demorei a atender, estava imenso barulho na pista e o escaldante corpo da Elisa transportava-me para outro local, certamente um paraíso bem longínquo desta triste realidade. Inicialmente pensei que fosse uma mão mais acalorada da Elisa mas só me apercebi que era a merda do telefone a vibrar quando vi a minha querida com as duas mãos no meu pescoço.
Entretanto, o telefone deixou de tocar, tinha o número do Zé Luís no visor.
Fui para o corredor das casas de banho para ouvir melhor, telefonei-lhe e atendeu de pronto, estava bastante agitado.
Foda-se... grande merda que eu fiz João! Matei um gajo! - gritava o Zé.
O quê?! Que se passou caralho? - perguntei eu.
O gajo está morto... - repetia o Zé Luís vezes sem conta.
Ele desatou a chorar e pouco mais disse.
Calma lá... estás onde? - perguntei-lhe eu, sem perceber nada do que se estava a passar.
No Pinhal, foda-se. Onde querias que fosse...
O cabrão está morto, passei-lhe com a roda por cima.
- respondeu ele.
Nós vamos já para aí, não entres em paranóia. - tentava eu acalmá-lo.
O Zé Luís estava bastante transtornado e só dizia merda...
Filho da puta, este chulo do caralho tinha logo que se meter debaixo do meu carro...
Eu ainda não me tinha apercebido da real dimensão de tudo isto e não sabia ao certo o que se tinha passado com aqueles gajos.
Uma voz pouco distante do telemóvel do Zé fez quebrar o silêncio...
Olha lá Zé, a gente não pode ir ali tentar dar uma foda naquelas putas ao fundo da rua enquanto o João não chega?
Era a voz de bêbado do Alexandre, sem qualquer dúvida.
Não havia tempo para mais demoras, desliguei a chamada e ia imediatamente para o Pinhal de Coina.
Contei à Elisa o pouco que tinha percebido da conversa ao telemóvel. Fomos procurar a Paula, esta andava perdida junto ao bar.
A rapariga enervou-se ao saber das últimas notícias e arrastou-me logo para a porta de saída da discoteca.
Pagámos os cartões de consumo e metemo-nos a caminho de Coina, no meu carro. O ambiente estava de cortar à faca, a Paula gesticulava por todos os lados e a doce Elisa não sabia mais o que dizer, senão tentar acalmar a Paula.
A viagem foi curta, não demorámos mais de quinze minutos a chegar junto deles.
O Fiat Punto do Zé estava parado em plena faixa de rodagem, o motor desligado e sem luzes acesas.
Felizmente era uma zona pouco movimentada senão poderia ter originado outro acidente.
Eles estavam os três fora do carro, o Hugo vomitava encostado a uma das muitas árvores do pinhal e o Zé enchia o Alexandre de porrada, talvez para acalmar os nervos que deveriam estar à flor da pele.
Estacionei o meu carro atrás do Punto, a namorada do Zé saiu disparada e foi logo exigir explicações ao namorado. Este largou o saco de boxe Alexandre e começou ele a levar na tromba. Com alguns gritos e umas chapadas à mistura, a Paula descarregou a sua fúria no namorado e conseguiu acalmar depois, deixando o gajo explicar a merda que tinha feito.
Estávamos no local do incidente há mais de dois minutos mas ninguém se tinha lembrado do morto nem de onde ele estaria até o Zé voltar a referir que tinha atropelado um gajo, possivelmente um chulo de algum putêdo da região.
Caralho, passaste-lhe com a roda por cima... está morto. - acrescentou o Alexandre.
Que pena, logo hoje que ia despejar os colhões é que este gajo tinha de atropelar o chulo. - disse o Hugo, limpando uns restos de vomito que lhe escorriam ainda pelo canto da boca.
Vamos lá a ter calma, vocês é que parecem umas putas histéricas com falta de pau na cona.
Onde é que meteram o corpo?
- perguntei eu.
Está ali. - disse o Alexandre, apontando para debaixo do carro do Zé.
O gajo estava mesmo lá caído, completamente imóvel.
A Elisa não lhe conseguiu apanhar pulsação... o chulo estava morto.
Era tudo mau demais para ser verdade, teríamos de abafar aquilo de qualquer maneira.
O elevado grau de alcoolemia deles incriminava-os directamente em homicídio.
Tentei pensar num plano para fazer desaparecer o corpo, talvez tirá-lo da estrada e abandoná-lo no denso pinhal mas eram quase cinco horas da manhã, toda aquela zona deveria estar repleta de putas a foderem camionistas e seríamos rapidamente apanhados com o corpo na mão.
Tinha que se remover o corpo dali e depressa, não tivesse alguém ter assistido ao incidente e já comunicado à polícia, talvez mesmo as próprias putas que andavam a ser chuladas pelo gajo atropelado.
Retirámos o gajo debaixo do carro, quase não se via sangue no chão nem nas roupas brancas do chulo.
Tivemos o cuidado de não pisarmos qualquer poça de sangue, por muito minúscula que fosse. Seriam sempre marcas deixadas no local da tragédia e que nos poderiam incriminar no futuro.
Metemos o corpo na bagageira do carro do Zé Luís e combinámos largar o morto na Lagoa de Albufeira, ali a menos de dez quilómetros de distância. A Paula não gostou da ideia de ser ela a conduzir o carro com o morto lá dentro mas o Zé nem para conduzir um carro telecomandado estava capaz e teve mesmo de ser ela a levar o Punto.
Chegámos à Lagoa de Albufeira, o sol ainda estava escondido mas estava para nascer dentro de em breve e sabíamos que teríamos de ser rápidos a fazer as coisas. Não estranhámos o largo aglomerado de carros presentes junto às vedações que separam a estrada da areia da praia, era noite de fim-de-semana e estava tudo ali para dar uma queca de sábado à noite.
Estacionámos os carros, tentámos que fosse o mais afastado possível dos outros carros mas não havia muito espaço para grandes escolhas. Abriu-se a bagageira do Punto, pegámos no morto pelos braços e arrastámos o corpo pela areia da praia.
Pouco andámos, a menos de vinte metros de distância, havia quem fizesse fogueiras, outros dormiam e alguns aproveitavam ainda a Lua para dar uma foda de despedida. Não havia 10 metros de areal que percorrêssemos que não fossemos logo avistados, desistimos da ideia de despejar ali o chulo e voltámos com ele para o carro.
Nas outras praias da região o cenário deveria ser o mesmo, não dava para abandonar um corpo numa praia que mais parece um sexodromo. Enquanto uns fodiam na areia, nós estávamos bem fodidos ali dentro do carro e com um apêndice bem merdoso no porta-bagagens.
Senão havia praias, pinhais ou outros sítios que pudessem estar sem gente a foder, teríamos de levar o corpo para um sítio calmo e sossegado numa madrugada de Domingo, sem mirones nem distracções por perto.
Cemitério... é isso! - pensava eu em voz alta.
A doce Elisa olhou para mim e nem sabia o que dizer, fez-me uma festa na face e abanou a cabeça. Talvez fosse uma ideia estúpida mas não havia outra e muito menos eles estavam em condições físicas ou psicológicas para discutirem fosse o que fosse.
Combinámos então ir para o cemitério da Vila Chã, à saída do Barreiro.
Apanhámos a estrada de volta para o Barreiro, ia tudo a correr normalmente dentro das possibilidades até que reparamos numa brigada de trânsito a fazer uma operação de controlo.
Só avistámos os carros da GNR já muito em cima e não podíamos agora dar meia volta.
Estávamos já em Coina, a quinze minutos do cemitério. Por momentos tive aquela sensação de velho combatente, morrer na praia.
O meu carro ia na frente, a Paula seguia-me de perto mas por sorte ou ironia do destino, os agentes da GNR somente mandaram parar o meu carro. A Paula seguiu caminho.
O agente da autoridade chegou perto do vidro, pediu-me os documentos e quando cheirou o meu hálito a álcool, ordenou-me que saísse imediatamente do carro. Soprei no balão, a máquina deu 0.48g/l.
Esta foi por pouco, se tivesse sido umas horas antes, certamente teria ficado sem carta.
O Hugo tinha vindo no meu carro com a Elisa, enquanto o Alexandre ia no outro carro com o casal.
Talvez por ver a GNR ali tão próxima dele, o Hugo entrou em pânico, começou a gritar e a chorar.
O agente viu aquela triste figura, mandou o gajo sair do carro...
Eu não matei ninguém...
Que se passa consigo, rapaz? - perguntou-lhe o agente.
Eu não matei ninguém...
Este gajo estava todo queimado, só dizia merda e ainda nos ia arranjar maneira de ficarmos ligados ao que se tinha passado anteriormente. Agarrei no Hugo pelos braços e meti-o dentro do carro.
Desculpe, senhor guarda, ele bebeu demais. Viemos agora duma festa de aniversário em Sesimbra.
Tentei abafar aquilo ali mas o cabrão do guarda não tinha ficado muito convencido.
O silêncio imperou durante alguns segundos, por fim o gajo lá me mandou seguir viagem.
A Paula esperava-me um quilómetro adiante, na beira da estrada.
Seguimos viagem para o cemitério, agora sem interrupções.
Aqueles últimos dez quilómetros pareciam intermináveis mas chegámos ainda antes do nascer do sol.
Os ponteiros do relógio deveriam marcar uma hora perto das seis da manhã mas com tanta agitação e nervosismo nem me dei ao trabalho de olhar para o relógio. Só esperava que o nosso trabalho a fazer no cemitério não coincidisse com o do coveiro.
Invadimos o cemitério, saltando o portão metálico com o corpo às costas.
Certamente não iríamos escavar uma cova mas também não iríamos abandonar o corpo na primeira esquina que encontrássemos.
O cemitério é relativamente pequeno e não tem muito para onde se esconder o chulo.
Olhámos para a capela, era ali o sítio ideal naquele monte de podridão para se despejar o nosso apêndice das últimas horas.
O Hugo tinha ficado a dormir no carro e o Alexandre ia-lhe fazer companhia. Tanto a Paula como a Elisa, estavam agora praticamente sóbrias depois do susto apanhado e eram as únicas pessoas que juntamente comigo tinham pulado o portão do cemitério.
O trabalho estava praticamente concluído, agora só faltava sair dali e depressa.
A Paula foi na frente, fui ficando para trás com a Elisa. Começámos aos beijos no meio das campas.
As nossas hormonas escolhiam as horas menos próprias para se fazerem sentir, estávamos os dois completamente excitados com tamanha emoção que íamos embalando para uma queca certa senão fosse os gritos da Paula a anunciar que se aproximava alguém.
Elisa tinha já a camisola despida e eu o botão das calças desapertado, a meio caminho dos joelhos.
Ouvimos os gritos da Paula mas já era tarde demais.
Acompanhando a voz da Paula, estavam as sirenes de dois carros da polícia... estávamos bem tramados.
Os polícias entraram pelo cemitério dentro, talvez alertados por algum vizinho.
Ficámos paralisados, não sabíamos o que dizer. Para piorar a situação, o corpo do chulo não estava completamente escondido, os primeiros raios de sol começavam a iluminar as pernas do gajo e os polícias rapidamente deram com ele.
Levantaram o chulo, apalparam o pulso ao gajo e deram-lhe duas chapadas.
Que estranho, seria algum fetiche marado dos polícias?... Espancar mortos.
Este deve ter bebida a Central de Cervejas inteira. - dizia um polícia para o outro.
Vamos embora, tudo para a esquadra. Têm muito que explicar... - falava o outro polícia, em voz alta.
Apontando depois o dedo na direcção da porta de saída do cemitério.
Eu próprio agora estava cheio de dúvidas e incertezas, o chulo afinal não estava morto.
Os agentes da autoridade obrigaram-nos a segui-los até uma esquadra do Barreiro.
Tinha ido tudo para a esquadra, até o próprio chulo que pensávamos morto.
Entrámos na esquadra, tinha a sensação que conhecia aquele lugar de qualquer lado.
Estavam duas agentes femininas na recepção, iriam tomar conta das ocorrências a partir dali mas o Zé queria fazer logo o seu comentário, ainda que embriagado. Ele tinha vindo a dormir desde a Lagoa de Albufeira e acordou no momento que a polícia chegou ao cemitério.
Foda-se, ouve lá. Que putas tão feias! - disse o Zé Luís, olhando para as duas agentes na recepção.
Pronto, estava mais que certo que a bebedeira ainda não lhe tinha passado mas ele não se ficou por ali...
Ò chefe... quanto é ali aquelas? - insistia o Zé.
Agarrei nele e sentei-me com ele nos sofás da esquadra antes que lhe dessem um enxerto de porrada, neste caso até seria merecida.
A Paula fez-nos companhia, enquanto que o Hugo e Alexandre se sentaram mesmo no chão frio. A Elisa continuava à conversa com um dos agentes que nos tinham encontrado no cemitério, tentando arranjar alguma desculpa plausível mas sem qualquer sucesso até ao momento.
O chefe da esquadra apareceu, agora é que isto ia dar em merda... agora me lembrava porque tinha achado este local familiar desde logo que entrei e só agora me lembrei que o pai do Zé Luís era polícia.
Tentei explicar ao pai do Zé, o chefe da esquadra, exactamente aquilo que se tinha passado. Ele ficou irritado, mandou-nos embora para casa e chamou uma ambulância para transportar o chulo ao hospital. O Zé Luís não teve a mesma sorte, o pai meteu-o numa cela vazia, de porta aberta, para dormir um bocado até lhe passar a bebedeira.
Eram oito e pouco da manhã, tinha acabado de subir ao segundo andar do meu prédio, entrei dentro de casa e fui directo para a cama.
Estava completamente exausto, a noite tinha tido tanto de emocionante como de problemática mas finalmente as coisas não acabaram muito feias para nenhum dos lados.
Antes de adormecer, já depois de ter caído no colchão, telefonei para a Elisa, aquela doçura de mulher.
No som de despedida dos seus beijos, fechei os olhos, desliguei a chamada e adormeci.

0 Comentários:

Enviar um comentário

Subscrever Enviar feedback [Atom]

<< Página inicial