quarta-feira, outubro 27, 2004

As teias da aranha

Sonhava maravilhosamente, recordando na perfeição cada pormenor da tarde anterior bem passada, o corpo da Elsa, o seu cheiro e o seu sabor. Fui subitamente acordado, a minha doce Elsa ainda dormia a meu lado, mas o telemóvel estava a tocar. Era o Alexandre, seria bom que este gajo tivesse uma boa desculpa para me acordar numa madrugada de segunda-feira.
Estou, que queres? – perguntei-lhe, ainda ensonado.
Epah, estou a foder! Estou a foder! – repetia-se ele.
Andaste a beber?
A foder! Tum tum tum, todo lá dentro!
– dizia o Alexandre, todo contente.
A sério? Fico feliz por ti, mas agora deixa-me dormir. Está bem? – começava a despachá-lo.
Estou a foder...
Desliguei a chamada sem que ele acabasse o que estava a dizer, desliguei a chamada e voltei a adormecer.
Os cinco dias seguintes foram preenchidos com aulas. Nessa semana, poucas vezes vi o Alexandre e o Luizinho na faculdade, eles andavam desaparecidos. Esperava que não tivesse nada a ver com o mistério criado no Domingo passado, na chegada ao Aeroporto.
Iria haver uma festa nesta sexta-feira de noite, na discoteca Kapital. Uma pequena comemoração para alunos do ISEL e seus convidados. Certamente os iria ver nessa festa, escutei-os durante a semana comentarem com entusiasmo a festa que se adivinhava, poderia então esclarecer com eles o que se estava a passar.
Cheguei a Lisboa, estacionei o carro em Santos e fui para a Kapital com a Elsa. Trouxe também o Alexandre de carro connosco, era quase meia-noite quando entrámos na discoteca. O Luizinho recusou a minha boleia e disse que chegaria mais tarde à festa, na companhia de uma amiga. Estava curioso para ver quem era, de um momento para o outro, tanto o Alexandre como o Luizinho, dois gajos encalhados, arranjaram amigas novas e ainda lhes saltavam para cima.
Insisti com o Alexandre para me contar tudo sobre a sua misteriosa amiga colorida e contei com a doçura da Elsa para o obrigar a falar. As minhas suspeitas confirmaram-se, a sua amiga da foda era a Daniela, só esperava que ela não se andasse a aproveitar do rapaz.
Estranhei ela não ter ido com ele à festa...
Alexandre, porque é que a Daniela não veio hoje contigo?
Eu era para não vir e disse-lhe ontem que não vinha. Mas há bocado apeteceu-me ir e liguei-te para me ires buscar.
E não lhe telefonas, afinal vieste à festa?
– perguntou-lhe a Elsa.
Não, a estas horas ela já deve estar a dormir...
Amanhã levanta-se cedo para o trabalho.
– justificou-se ele, engasgando-se com as palavras.
O assunto morreu por ali, entretanto, ligou-me a Diana. Não falava com ela desde a última fuga da sua irmã Patrícia.
João, estou a chegar agora. Onde estás?
A chegar?!
– não saberia onde.
Sim, vou só arrumar o carro. Estás já lá dentro? – perguntou ela.
Estou... mas...
Estava imenso barulho na discoteca, era difícil de me fazer perceber.
Não te oiço bem, mas pelo som parece que sim, até já. – finalizou a Diana, desligando depois a chamada.
Fiquei sem saber onde ela estava e não tive tempo de lhe explicar onde eu estava, mas fiquei com a impressão que ela sabia exactamente onde me encontrava. Estranho, não tínhamos combinado nada para aquela noite.
Minutos depois, entrava a Diana na Kapital e vinha ter connosco, a uns sofás.
Olá, João! Elsa, como estás? – cumprimentou-nos a Diana.
Fiquei contente de a ver na festa, mas não sabia como ela tinha vindo aqui parar.
Obrigado pelo convite de hoje, estava a precisar de me distrair. – disse ela.
Convite? Linda, deves estar a fazer confusão. – interrompi-a.
Sim, convite para estar aqui hoje. Falámos ao telefone esta tarde, como podes não te lembrar?! – acrescentou ela, sorrindo.
Diana, eu não falava contigo desde o mês passado.
Só podes estar a gozar, não é?
Não estou, a sério. Pergunta à Elsa, passámos a tarde juntos e não peguei no telemóvel.
É verdade Diana.
– esclareceu a Elsa, que estava calada até então.
Não estou a perceber nada... – começa a Diana a ficar intrigada, tal como nós.
Bebeu um gole de água e passou em revista no seu telemóvel as últimas chamadas feitas.
Se não foste tu quem falou comigo esta tarde, então quem foi? – acrescentou ela.
De facto era muito estranho, Diana disse-me que essa pessoa tinha a voz igual à minha e fez a maior questão que ela viesse a esta festa, infelizmente a chamada tinha sido feita de um número anónimo.
A festa foi ficando mais concorrido, instantes depois chegava o Luizinho à festa. Perguntei-lhe pela nova amiga, ele disse-me que ela estava no bar com a prima e que vinham ter connosco dentro de pouco tempo.
Trazes logo duas? Muito bem, andas a aprender com o pai. – disse eu, sorrindo.
Ele ficou todo contente e corou ainda mais quando viu as suas amigas aproximarem-se. Não poderia ser! As amigas deste parvo eram a Daniela e a Filipa. Que fariam elas aqui? A Filipa era prima da Daniela? Que confusão, desconhecia agora onde as novidades iriam parar.
O Alexandre voltou da casa de banho e viu o Luizinho agarrado à Daniela, eles não sabiam que ele tinha vindo a esta festa comigo e gerou-se uma enorme discussão. Este sentiu-se traído, ainda por cima por um dos seus melhores amigos. Os gajos pegaram-se à porrada e vieram dois gorilas, disfarçados de seguranças de discoteca, que os meteram na rua. Muita sorte tiveram eles de não terem levado porrada dos seguranças, mas como as coisas acalmaram mal se sentiram postos fora da Kapital, os seguranças cagaram neles.
A Daniela sentiu-se um pouco culpada pela situação e convidou-nos a todos para irmos passar o resto da noite a casa dela, em Cascais. Poderia ser que as coisas se resolvessem a bem entre o Alexandre e o Luizinho, fomos então todos para lá.
A Filipa veio no meu carro, também a Diana aproveitou a boleia e deixou o seu carro perto da Kapital. O Alexandre e o Luizinho foram no carro da Daniela, assim iam falando e resolvendo as coisas. A Filipa não sabia o que me dizer, possivelmente a Daniela não lhe disse que eu estaria naquela festa.
Filipa, no Sábado passado, alguém te pediu que me ligares? – perguntei-lhe directamente.
João... – não disse mais nada.
Podes contar, isto não sai daqui. – voltei a insistir com ela.
A Elsa apercebeu-se que se tinha passado qualquer coisa, mas não disse nada na altura.
Sim. – respondeu a Filipa, a muito custo.
Ela é mesmo tua prima?
Sim, é filha do irmão da minha mãe. – não disse mais nada até Cascais.
Chegámos à casa da Daniela meia hora depois, uma vivenda junto ao mar, vivia-se bem por estes lados. Desconhecia que uma jovem jornalista já pudesse ter uma casa destas, mas esta mansão era dos pais dela, mas como estavam emigrados, era ela quem vivia lá.
O Alexandre e o Luizinho estavam mais calmos um com o outro, no fundo, aperceberam-se que tinham ambos sido usados, só não sabiam para que finalidade. Daniela jogava sujo, tocando no ponto mais fraco dum homem, a sua gaita. Por muito que tentasse, não conseguiria encontrar uma finalidade para ela se dar a tanto trabalho.
Tentámos colocar esses assuntos e intrigas para trás, estávamos ali para descontrair e foi nisso que apostámos. O Alexandre enfrascava-se em álcool, tendo o Luizinho como companheiro de bebida. As quatro meninas andavam pela casa, ouvindo música e falando de qualquer coisa. Roubei a atenção da Elsa e levei-a para o andar de cima, queria estar um pouco mais na intimidade com ela, não sentia o seu corpinho quente há dois dias e não estava a aguentar mais.
Entrámos no primeiro quarto que encontrámos, fechamos a porta e saltámos para cima da enorme cama. Este deveria ser o quarto dos pais da Daniela, estava bem arrumado e dava sinal que não era usado há algum tempo.
Rebolámos na cama e caímos no chão...
Apalpava algo mais que o corpo da Elsa, um objecto debaixo da cama estava a despertar a minha curiosidade. Puxei-o para fora e vimos que era uma arma de fogo, estava carregada. Eu e a Elsa parámos o que estávamos a fazer e ficámos um pouco assustados quando para além da visão da arma, escutámos barulho de vidros a partirem-se, vindos da sala de jantar onde todos estavam.
Saímos do quarto para ir ver o que se passava, foi então que demos de caras com a Daniela, que nos forçou a entrar novamente no quarto. Vinha de arma em punho e mandou-nos subir para cima da cama. Pegou no telemóvel e chamou mais alguém para a casa.
Ficámos em cima da cama a olhar para ela durante quinze minutos, até chegarem três tipos entroncados, vestidos de preto e auriculares. Isto era tudo muito estranho, quem seria esta Daniela na realidade e que merda vinha a ser esta. Nessa espera, com ela sempre de arma na mão apontada a nós, não nos adiantou nada do que se estava a passar, apenas se limitava a ordenar que estivéssemos quietos.
Um dos gajos pegou na Elsa pelo braço, tentei evitar que a magoassem, atirei-me a ele, mas a Daniela imobilizou-me apenas com dois golpes, um pontapé debaixo do queixo e um violento rotativo que me atirou alguns passos para trás.
João! – gritava a Elsa, sendo levada.
Esta Daniela não era nenhuma jornalista, parecia mais uma agente de segurança bem treinada.
Para quem trabalharia ela e o que queriam de mim?
Os outros tipos pegaram em mim e levaram-me para fora da casa, quando desci as escadas até à sala de jantar, tive uma visão desoladora, vi os nossos amigos todos caídos no chão, sem se mexerem, começava a temer o pior.
Não te preocupes, estão apenas a dormir. Eles quando acordarem não se vão lembrar de nada...
Talvez tu não tinhas a mesma sorte.
– disse a Daniela, amedrontando-me.
Os golpes dela deixaram-me dorido, vi a bela Elsa ser metida à força num carro, onde já a Diana se encontrava inconsciente, possivelmente também ela uma vítima do mesmo gás que deixara os meus amigos a dormir dentro da casa.
Meteram-me dentro de outro carro, a Daniela entrou depois e mandou o condutor arrancar.
Seguíamos pela Marginal, no sentido de Cascais a Lisboa, Daniela permanecia em silêncio e os outros dois gajos dentro do Mercedes também nada diziam. Queria sair daqui, pensava que tudo fosse um pesadelo e que acabaria em breve, não poderia estar mais enganado. A jovem agente que me tinha raptado seguia no banco traseiro a meu lado e com uma arma apontada à minha barriga.
A viagem estava a ser rápida, tínhamos andado bastantes quilómetros desde que saímos de Cascais poucos minutos antes, avistava ao longe a Torre de Belém. Tive um impulso de pegar na pistola que a Daniela trazia na mão e tentar verter a situação a meu favor, pensava que seria capaz de controlar os acontecimentos... Lutámos pela posse da arma, mas o resultado não foi o esperado. A arma foi disparada e a bala perfurou o banco do condutor, atingindo o mesmo nas costas. O carro ficou desgovernado, a alta velocidade pelas ruas de Lisboa, indo embater com violência numa paragem de autocarro. Lembro-me de ver algumas pessoas nessa mesma paragem antes do carro lá embater, algumas conseguiram fugir, outras não tiveram a mesma sorte.
O carro acabou por capotar, fiquei sem me mexer por instantes, por sorte, tinha o cinto de segurança posto, evitando assim males maiores. O condutor e o ocupante do lado estavam inconscientes e sangravam da cabeça, a Daniela começava a recuperar os sentidos e sangrava ligeiramente do nariz. Desapertei o cinto e saí pela janela do carro.
Doía-me o corpo todo, o máximo que consegui foi coxear alguns metros até uma cabina telefónica, lá dentro estava um senhor de idade, possivelmente pedindo ajuda.
Pára! – tinha a Daniela recuperado do acidente e gritava agora comigo.
Assustei-me ao vê-la de arma na mão, apontada a mim.
Comecei a bater nos vidros da cabina, o homem assustado, ficou paralisado a olhar para a mulher que me perseguia e não teve outra reacção senão aquela. Daniela, de arma na mão, mandou-o pousar o telefone, mas o pobre homem estava demasiado assustado para reagir e ficou ali imóvel. Ela repetiu as mesmas palavras de ordem, apontando agora a pistola na direcção do senhor, mas este pouco mais fez que assistir a tudo.
Daniela deve ter sentido que estava a perder o controlo da situação e baleou o idoso na cabeça, a bala perfurou o vidro da cabine e matou o pobre coitado.
Aproximou-se de mim e mandou-me levantar do chão. Algumas pessoas que tinham assistido a tudo de perto, corriam agora para longe, tentando evitar a mesma sorte que o outro desgraçado que agora jazia morto num destroço de vidros.
Ela pegou no telemóvel e chamou um carro para nos vir buscar.
Viste, olha o que aconteceu por tua culpa.
Se não tivesses feito merda, aquele homem ainda estaria vivo.
– ia ela me martirizando pelo que tinha acontecido.
Talvez ela não estivesse errada de todo, afinal um homem tinha morrido, se eu tivesse ficado quieto no carro e não lhe tentasse sacar da arma, estaríamos naquela altura num lugar completamente diferente e não ali rodeados de mortos... tal como as pessoas na paragem de autocarro, agora completamente desfeita.
Minutos depois, outro carro chegou para nos recolher, não havendo ainda qualquer sinal da presença de polícia. Antes de entrarmos no carro, Daniela bateu-me com o punho da pistola na cabeça, não me recordo da viagem que fiz, desmaiei.
Quando recuperei os sentidos e voltei a abrir os olhos, recordo-me apenas de estar fixamente a olhar para uma parede branca. Fechei novamente os olhos, sentia-me fraco e voltei a desmaiar. Acordei momentos mais tarde e tinha na minha frente a mesma imagem que antes vira, a parede branca. Acabei por despertar, apercebi-me então que não era uma parede branca, mas sim o tecto de uma pequena sala quadrada. Estava deitado numa cama, junto a uma das paredes, o espaço era bastante reduzido e pela primeira vez na vida senti-me claustrofóbico. Por cima da porta, estava uma câmara de vigilância, filmando na direcção da cama onde me encontrava.
Instantes depois, apareceram dois gorilas na sala, entroncados e vestidos de preto, levaram-me para uma outra sala, bastante iluminada e com uma cadeira que se assemelhava a uma de dentista, preenchida com bastantes acessórios cortantes.
Perguntei-lhes pelas minhas amigas, mas estes tipos não falavam e a única linguagem que conheciam era a expressão corporal, deram-me dois murros no estômago e amarraram-me na cadeira da tortura.
Daniela entrou na sala, os dois tipos saíram e fecharam a porta. Segundos depois, entrou uma nova pessoa nessa sala, era uma mulher, disse qualquer baixinho à Daniela. Não consegui perceber o que disse, mas reconheci de imediato aquela voz... Não poderia ser, que faria ela aqui, a Susana!
Não me cumprimentou como sempre havia feito, esta mulher antes sempre se fizera passar por minha amiga e chegara inclusive a ser bastante íntima, sem nunca ultrapassarmos a barreira da amizade, revelava-se agora uma pessoa totalmente diferente e que eu já não conhecia.
Daniela agarrou-me no braço e ela injectou-me uma droga qualquer na veia, comecei imediatamente a sentir tremores, suava imenso e o meu corpo ficara adormecido, estando o meu cérebro completamente sob o efeito desta merda, vulgarmente chamada de soro da verdade.
Susana dirigiu o interrogatório com a ajuda da Daniela, perguntaram-me tudo o que sabia da Patrícia, imensas questões pessoais quais os meus hábitos sociais e, no fim, voltaram a insistir em tudo o que tivesse a ver com a Patrícia. A droga que me deram apenas me deixava dizer a verdade, qualquer outro pensamento ou ideia que quisesse exprimir e fosse contraditória da verdade, ficava barrada na minha boca. Essas palavras pensadas mas não ditas, ficavam enroladas na língua e recolhiam ao seu estado mais primitivo, o pensamento.
Suava por todos os poros, quando a Susana deu por terminada a sessão, chamou alguém àquele local, para me levar de volta à sala onde tinha acordado. O efeito daquele soro ainda actuava em mim, fazia-me recordar cada pergunta como se ainda estivesse pendente.
A Daniela abandonou a sala do interrogatório e fiquei ali sozinho com a Susana, nenhuma delas me inspirava confiança e sentia a minha integridade física tão ameaçada na presença desta advogada que antes se fizera passar por minha amiga tal como com a outra psicopata assassina que acabara de sair.
Entretanto chegaram os dois tipos entroncados, desamarram-me da cadeira e carregaram comigo até ao quarto onde tinha acordado. Fui arrastado por aqueles animais naquele enorme corredor, chegado ao quarto, lançaram-me com violência no chão, como se fosse uma saca de batatas, mas não senti nada naquele momento, apenas observava sem reacção o que me iam fazendo.
Permaneci deitado no chão do quarto após os gajos saírem, imóvel. Susana ficou comigo, fechou a porta e apontou um comando na direcção da câmara que nos filmava. Reparei que a persistente luz vermelha da câmara se desligou.
Que estaria ela a fazer? Pensava que a câmara estivesse ali para vigiar quem fosse guardado em cativeiro.
Susana retirou do seu bolso um pequeno frasco e encostou-o ao meu nariz.
Vamos, cheira isto. É amoníaco concentrado. – disse ela.
Cheirei aquela merda, o odor intenso daquele composto rapidamente me chegou ao cérebro e despertou os sentidos antes adormecidos pelo soro que me haviam injectado.
A sua postura perante mim alterou-se, não era mais aquela cabra calculista e fria que tinha tão bem dirigido o interrogatório, estava mais calma e assemelhava-se um pouco mais à mulher que em tempos havia conhecido. Tentava-se explicar, não entrava em detalhes mas ia adiantando que o meu sequestro tinha sido um erro.
Aquelas palavras pareciam-me falsas, vinham carregadas de um sentimento não natural, eram ditas de maneira calculada, tento tocar-me nos meus pontos mais fracos. Não sabia porque haveria de acreditar nela agora, esta Susana que via à minha frente era-me totalmente estranha, não era nem uma sombra da amiga doce e carinhosa que em tempos conheci.
Que queres de mim? – perguntei eu.
Quero ajudar-te a sair daqui, com vida. – respondeu.
Fiquei sem saber o que dizer, comecei a temer pela minha vida, talvez fosse essa a intenção dela.
Perguntei-lhe pela Elsa e Diana, contou-me que estavam bem e que depois de serem interrogadas se livrariam delas...
Livram como? – interrompi a Susana.
Não te preocupes, vão deixá-las em casa, drogadas e sem se lembrarem de nada.
Acreditei nas palavras dela, talvez porque tivesse mesmo de acreditar para me sentir descansado e me quisesse convencer que a vida das minhas amigas não corria perigo e tudo fosse acabar bem para elas.
Toma, engole... – disse a Susana, dando-me duas cápsulas para a mão.
Que é isto, mais uma das tuas drogas? Não deves estar à espera que eu meta isso na boca, pois não?
Vamos, toma logo isso.
– insistiu ela.
Não, enquanto não me explicares que merda é esta. – disse eu.
Serve para te aumentar os níveis de adrenalina e recuperares alguma sensibilidade, o soro que te demos deixa-te assim como estás agora durante um dia. Sem isso, nem forças para ires à casa de banho terás. – acrescentou.
Engoli aqueles dois comprimidos a seco, esperava que não fossem novas drogas e me deixassem novamente à sua mercê ou inconsciente.
Susana ajudou-me a levantar do chão e deitou-me na cama. Disse que iria rapidamente sentir os efeitos dos comprimidos e assim estava a acontecer, recuperei parte da sensibilidade e senti as minhas reservas de energia serem restabelecidas.
Entretanto, contou-me o que fazia na agência e todo o seu envolvimento neste caso.
Ela era uma agente de campo, contratada pela Majestic SD6 assim que se formou em Direito anos antes. Mas algo não estava explicado, o porquê de eu estar ali naquele momento. Susana, tentando sempre esquivar-se a uma resposta directa, explicou-me com rodeios que a Patrícia também tinha sido uma agente operacional da Majestic SD6, mas que andava fugida desde há um mês, após uma missão de alto risco ter dado para o torto e toda a sua equipa de campo ter morrido. Se foi há um mês, aconteceu depois de a ver em Palma de Maiorca na piscina do nosso hotel. Dissera-me que ia para Nova Iorque... não sabia mais no que acreditar.
Susana, a tua aproximação a mim também fazia parte de um esquema?
Sim.
Até no dia que nos conhecemos?
– perguntei.
Sim, frequentávamos os mesmos sítios e a agência sabia que era fácil uma mulher atraente conseguir algo de ti.
E posso saber porque se deram a tanto trabalho?
– continuava eu a insistir com ela.
Para te recrutarmos, claro.
De que estás a falar?!
– cada vez percebia menos do que me dizia.
João, tu fizeste um teste para entrares na Majestic SD6 e passaste. Andamos a recolher informação sobre ti há mais de um ano.
Teste? Que teste? Eu não pedi por nada disto!
– as minhas dúvidas aumentavam.
Sim, quando conheceste a Patrícia...
Continuo sem perceber.
– disse eu.
O assalto à joalharia, já te lembras?
Sim, mas isso foi...
– nem sabia o que dizer.
Um teste, João. O alarme accionado de propósito, a Patrícia poderia lá ter entrado sem que ninguém sequer desse conta, mas accionou o alarme antes de sair. Juntamente com a denúncia anónima para a polícia, ainda quando vocês estavam a sair da discoteca Lux, foi simplesmente tudo preparado para te testar.
Então era tudo um esquema... Porque fizeram isso comigo?
– perguntei, insistindo para que me contasse tudo.
Para te termos connosco. Tens qualidades que apreciamos, mas tínhamos de ter certeza se eras capaz.
A confusão aumentava dentro da minha cabeça.
Pensei que fosses minha amiga.
E sou, João.
Não, não és. Nem tu nem nenhuma das cabras que estiveram envolvidas nisto.
João, se não fosse tua amiga, não te estaria a ajudar neste momento.
– argumentou ela.
Ajudar? Tu chamas a isto ajudar? Eu não! – disse eu, com a minha voz alterada.
Estava todo suado, Susana colocara em cima da minha cama uma nova muda de roupa e disse para me trocar. Na verdade, nem era mau pensado. Tinha as minhas roupas imundas e não iria a lado nenhuma naquela triste figura.
Susana não saiu do quarto para que eu trocasse de roupa, também não me importei, era apenas mais uma gaja que me via a gaita.
Ajudou-me a despir a roupa que trazia colada ao corpo, toda suada.
Já te sentes melhor? – perguntava ela.
Sim, recuperei a sensibilidade nos músculos.
Estou a ver que sim...
– aproximou-se, tocando no meu corpo despido.
Não liguei aos seus avanços, para quem já tinha sido tão usado, isto era uma brincadeira de crianças.
Peguei na camisola para me vestir...
Espera, não te vistas já. – disse ela, com um sorriso nos lábios.
Susana, agradeço o que estás a fazer, mas não estou com disposição para essas coisas.
Mas ela não recuou, passou a mão no meu peito e foi descendo lentamente...
Eu no teu lugar estaria, podes ter de ficar aqui retido até a Patrícia regressar sabe-se lá de onde.
Olha que isso pode levar imenso tempo.
– insistia ela, cinicamente.
A sua mão passeava delicadamente sobre o meu corpo suado, consenti que o fizesse e nem tive reflexos para rejeitar os seus avanços, era como se o meu corpo me ordenasse que o fizesse, apesar da mente estar apenas ocupada em tentar arranjar uma maneira de sair dali.
Fizemos amor naquele quarto, não foi amor para mim, foi simplesmente uma foda.
Sentia-me cheio de força, aqueles comprimidos deveriam ser afetaminas ou qualquer outra substância altamente dopante, mas estava sem dúvida a fazer o efeito pretendido, não sei era por quem.
Susana vestiu-se e despediu-se de mim na cama, agarrando na minha roupa antiga.
Adeus, João. Tenho de ir, agora é troca de turno do pessoal, isto vai estar menos movimentado por uns momentos...
Aquelas palavras não eram apenas de despedida, seguidas de um beijo caloroso nos lábios. Havia ali algo de estranho, era como se ela me estivesse a alertar ou aconselhar que aquela seria a minha pequena janelinha temporal de oportunidades.
Susana, espera...
Sim?
– recuou ela, fechando novamente a porta do quarto.
Na última vez que saímos, o Luizinho e o Alexandre também foram, tal como as tuas primas suecas...
Que tem isso? Já foi há mais de meio ano, João.
Sim, mas dessa vez também foi tudo planeado?
Claro, essas loiras eram duas agentes nossas, de visita a Portugal e tiveram o maior prazer em entrar nessa missão. Não vejo qual o teu problema, na altura ficaste bastante agradado, e com as duas, se bem me lembro.

Só há uma coisa que ainda não percebo, porque incluíram os meus amigos nos vossos esquemas? – perguntei.
Queríamos recolher toda a informação sobre os teus relacionamentos e contactos, confesso que foi trabalhoso.
Então foi tudo uma grande farsa desde o início?
Tal como esta foda que acabámos de dar, também fazia parte duma missão?
– acrescentei.
Oh João, não te conhecia assim tão sentimental... – disse ela, sorrindo.
Tens razão em apelidar assim a forma como nos conhecemos, mas o que fizemos agora foi por gosto, considera isto como uma despedida menos litigiosa. Até acho que a Patrícia tinha sido pouco generosa ao falar-nos de ti!
Óptimo, agora tinha a vida sexual documentada numa agência de psicopatas terroristas.
Vou indo, mudança de pessoal... – acrescentou ela, soltando um beijo e apontando na direcção da câmara de vigilância desligada.
Saiu, mas deixou a porta entreaberta. Apercebi-me que ela estava mesmo decidida a colaborar na minha hipotética fuga daquela local, sentia-me demasiado drogado para pensar noutra hipótese que não aquela ou que aquilo tudo faria parte de outro esquema, possivelmente um novo teste. Decidi arriscar a minha sorte, apesar de me sentir como um rato de laboratório num labirinto fechado.
Vesti-me à pressa, apenas tinha no quarto a roupa que a Susana me deixara. Sabia que tudo aquilo poderia ser uma cilada, mas não tinha nada a perder e os comprimidos que tinha ingerido, levavam-me a querer fazer coisas estúpidas, correr desalmadamente contra uma parede e atravessá-la, esta merda psicotrópica era mesmo boa, muito potente.
Corri pelo corredor, não se via sinal de presença humana, reparei inclusive nas luzes vermelhas de presença das câmaras de vigilância e estavam desligadas. Tudo estava a ser demasiado fácil, as câmaras desligadas, a falta de agentes nos corredores, mesmo a esta hora da madrugada, e bastantes portas abertas, onde antes necessitava de activação através de código digital... eram ingredientes bastante claros para que tudo isto estivesse planeado e alguém se estivesse a divertir à grande, numa salinha qualquer, observando todos os meus movimentos e preparado para agir na altura necessária. Se continuasse desta forma, estaria condenado ao fracasso, para além de me sentir perdido nestes corredores. Achei sensato parar de fugir e correr para aquele destino incerto, entrei então na primeira casa de banho que encontrei. Tranquei a porta, lavei a cara e esperei um pouco encostado a uma das paredes, não me sentia cansado, pelo menos fisicamente.
Continuava sem ouvir passos no corredor, mas sentia-me vigiado, apesar de não haverem câmaras de segurança na casa de banho. Tive uma enorme vontade de cagar, este deveria ser outros dos efeitos daqueles comprimidos, aliviei as tripas mesmo ali. Quando estava em pleno acto de libertação intestinal, olhei para o topo do cúbico onde me encontrava sentado e reparei numa grela que tapava uma conduta do sistema de ar condicionado. Pensei de imediato que aqueles tubos poderiam ser o meu bilhete de saída daquele lugar, sem dar muito nas vistas e apenas tendo cuidado para não cair em nenhum buraco ou numa sala repleta de agentes raivosos.
Despejei o autoclismo e trepei pela sanita até alcançar a grelha. Sentia-me cheio de vitalidade e força para aquilo, subi para o apertado tubo de ar e fechei a entrada atrás de mim, disfarçando assim o meu rasto.
Não sabia que direcção tomar, escolhi um dos lados para começar a minha busca pela liberdade.
Rastejei pelas condutas durante imenso tempo, passando sorrateiramente por cima de corredores agora preenchidos por agentes de segurança e pequenas salas repletas de gente, possivelmente trabalhadores.
Já tinha amanhecido lá fora, cheguei ao topo de uma sala iluminada pelo Sol, deixava passar pela sua janela toda a luz de um amanhecer. Conseguia ouvir o mar, deveria estar próximo de alguma praia.
A sala estava deserta e tinha uma janela aberta para a rua, começava a perder a sensibilidade muscular, o efeito dos comprimidos estava a dissipar-se, teria de aproveitar esta oportunidade para conseguir escapar.
Removi silenciosamente a grelha que me separava do interior da sala, deixei-me cair no chão, estranhamente pouca dor senti de uma queda de mais de dois metros. O meu corpo voltava a entrar em adormecimento, efeito sentido logo quando a Susana me injectou a soro nas veias. Sabia que tinha os minutos contados antes de voltar a ficar imóvel, encostei-me à janela e olhei lá para fora...
Dali, conseguia ver a encosta de uma ravina que era banhada por um vasto mar, lá bem em baixo. Não queria arriscar a minha sorte saindo calmamente pela porta de saída, sem que nada de anormal se estivesse a passar, e enfrentando um batalhão de agentes de segurança que tudo fariam para me parar.
Voltei a olhar para a ravina, seria uma descida atribulada pela encosta de uma montanha, mas seria por ali que iria ter de ir. O efeito dos comprimidos de adrenalina começa a dissipar-se cada vez mais depressa e a minha janelinha de oportunidades eram tão minúscula, que senti por momentos, mesmo que me atirasse de cabeça numa queda de cinquenta metros até ao mar, quando lá chegasse seria tarde demais para sentir o meu corpo e ter algum controlo das minhas capacidades motoras. Decidi arriscar, abri rapidamente o resto daquela janela e saltei para o exterior. Saltei a rede que me separava da encosta e corri até ao precipício, iniciando ali a minha descida.
Apesar de estar a perder sensibilidade, tinha por momentos, mesmo que poucos, uma força extrema no corpo e na mente. Estava claramente dopado, a Susana não me tinha dado simples comprimidos para as dores de cabeça, eram drogas catalisadoras e bem potentes, mas o seu efeito estava agora a desvanecer-se.
Consegui descer a encosta acidentada da montanha sem grandes problemas, mas a entrada nas águas agitadas do mar foi um problema. Lancei-me naquelas águas a mais de metros de altura, tentando evitar a rebentação das ondas, mas bati nalguma rocha com as costelas, apesar de não ter sentido muita dor, estava a ficar preso de movimentos no braço esquerdo.
Consegui nadar até à praia, ainda a uma distância razoável de onde tinha mergulhado. Quando finalmente cheguei à areia da praia, consegui ter uma visão panorâmica do sítio onde tinha sido mantido em cativeiro durante toda a noite. Reconheci aquele local, estava numa praia perto da Lagoa de Albufeira, a poucos quilómetros de Sesimbra.
Caminhava pela areia da praia, cada vez ia sentindo menos dor no corpo, mas era com bastante dificuldade que agora me deslocava. Arrastava as minhas pernas ensanguentadas pela areia, as calças que trazia vestidas estavam rasgadas, tal como toda a minha restante roupa. A sensibilidade era cada vez menor, deixei-me cair na areia sem que nada pudesse fazer, simplesmente estava imobilizado, toda a quantidade de soro que me tinha sido injectada ser assimilada pelo meu organismo. A Susana tinha falado num dia sob efeito desta droga, talvez fosse demasiado tempo para ficar ali estendido naquela praia deserta, sangrando e sem sentido o meu corpo, seria uma morte indolor.
Tremia bastante, apesar de não sentir qualquer frio, olhava para a minha pele e estava toda arrepiada, resultado das águas frias onde tinha caído. Tinha uma enorme nódoa negra no meu lado esquerdo, possivelmente seria alguma costela partida, provocada pelo meu embate numas rochas assim que mergulhei na água, mas continuava sem sentir nada, apenas assistia ao meu corpo quebrado.
Tentava fazer um último esforço para me levantar, era cada vez mais difícil mexer qualquer músculo do meu corpo. Escutei ao longe o som de um helicóptero aproximando-se, vindo do local de onde tinha fugido.
Acabou por aterrar perto de mim, desceram duas pessoas, a forte ventania provocada pelas hélices do helicóptero lançou-me areia nos olhos e só as consegui distinguir quando se chegaram junto de mim. Ali estava eu, de joelhos na areia daquela praia e sem forças para prosseguir, a Daniela apontava-me uma arma e a Susana ria cinicamente.
Muito bem, conseguiste iludir os nossos agentes e quase escapar. – disse a Susana.
O último que tinha tentado, não foi muito longe. – acrescentou a Daniela.
Tinha alguma dificuldade em falar, mas mesmo assim fiz um esforço...
Não tive assim tanta sorte, ou será que não vêem onde estou?
Era impressionante a maneira como elas encaravam as coisas, para elas tudo isto não passara de mais uma missão, um jogo com a vida de alguém e sentiam-se contentes assim.
Sim, mas só te detectámos pelo dispositivo de localização quando saíste da casa...
Mas qual dispositivo? Daniela, que estás a dizer?
– perguntei eu, sem saber do que ela estava a falar.
Voltámos a perder o contacto quando entraste na água, só não sei como conseguiste desviar o sinal dentro da casa. – concluiu a Daniela.
As condutas de ar são isoladas por aço e repele essas frequências, muito bem João. – acrescentou a Susana.
Mas qual dispositivo, porra. As cápsulas que me deste? – insisti eu.
Não, está mesmo junto a ti, no botão das calças que te dei para vestires.
Sentia-me rendido às evidencias, não sabia mais que fazer e poucas mais forças tinha para me mexer.
João, bons sonhos... – acenou a Daniela, apontando a pistola ao meu peito.
Ela disparou, mas não era uma bala. Um dardo penetrou na minha pele e comecei de imediato a fechar os olhos, uma vez mais, não senti nada.Adormeci profundamente, era um dardo tranquilizante.

sábado, outubro 23, 2004

Arde sem se ver

Acordei numa cama que passou a não me ser estranha desde há uns dias. Elsa beijava-me suavemente as orelhas e fazia deslizar a sua língua pela minha face, humedecendo os meus lábios na esperança de me despertar.
Abri os olhos, tive uma visão linda, Elsa de cabelo apanhado e deslocando os seus lábios na minha direcção. Havia lá coisa mais bela que esta princesa logo pela manhã, tão linda e serena, acariciando-me com a sua sensualidade e tornando um simples despertar em dia de aulas, numa verdadeira celebração de bons dias.
Tinha passado toda a semana na casa dela, desde que voltámos das férias em Palma de Maiorca. Os pais da Elsa continuavam pela Suíça e regressariam no próximo fim-de-semana, estávamos ainda em quarta-feira e teríamos de aproveitar ao máximo estes momentos íntimos.
Elsa era sem duvida a mulher mais sensual, mais apaixonante que eu alguma vez tinha conhecido. Sentia-me cada vez mais atraído por ela, não apenas pelo seu corpo magnífico e beleza deslumbrante, mas igualmente pela sua doce maneira de ser, o seu interior como pessoa espelhava na perfeição toda a beleza exterior que ela possui.
Elsa, tenho de ir para o ISEL, já estou atrasado. – dizia eu baixinho, sem vontade nenhuma.
Já? Espera mais um pouco, meu querido. – puxava-me ela para junto do seu corpo.
Não posso, com muita pena minha. Tenho de deixar tudo preparado para a apresentação do projecto.
Mas não tens de partir para a Madeira apenas no Sábado?
– perguntou ela.
Sim, mas faltam acertar ainda bastantes detalhes.
Fiquei por momentos a olhar para a sua carinha, desejando não ter de ir embora.
És muito linda, sabias? A tua beleza e sensualidade são adocicadas pelo teu carinho e ternura...
Deixas-me completamente louco de paixão, mas tenho mesmo de ir. – acrescentei eu, beijando os seus lábios carnudos.
Levantei-me da cama, arranjei-me à pressa e fui de imediato para a faculdade.
O ambiente no ISEL continuava de grande tensão, tudo teria de estar preparado antes de Sábado e as tarefas pareciam nunca mais acabar. A engenheira Isabel chamou-nos ao seu gabinete, local onde tinha passado óptimos momentos da sua companhia e partilhando a sua intimidade.
Acertávamos os últimos preparativos antes de arrumarmos e selarmos o nosso projecto num caixote. Esse fim não estava próximo, tivemos de passar dia e noite de volta daquele trabalho a modo de o colocarmos completamente funcional a tempo da exposição, na Gala de Novos Criadores que este ano iria decorrer no Funchal.
Os três dias que nos separavam do grande acontecimento passaram num instante, não havia mais tempo para editar o projecto feito por nós e apenas esperávamos que tudo nos corresse bem e fizéssemos boa figura.
Estávamos no Aeroporto de Lisboa, à hora marcada. Eu e o Luizinho aproveitámos a boleia do pai do Alexandre que amavelmente nos trouxe do Barreiro. A bela engenheira Isabel já nos aguardava no terminal de embarque, tinha ido mais cedo para tratar do envio do nosso projecto no mesmo voo, um pequeno robot.
Éramos uma comitiva de quatro pessoas, bem liderada pela nossa engenheira da cadeira.
Chegámos antes da hora de almoço ao Funchal, foi óptimo assim, sempre tivemos a sorte de saborear uma maravilhosa refeição no hotel.
Fomos recebidos calorosamente pelas gentes desta terra. No restaurante do hotel encontravam-se outros alunos de diversas faculdades de engenharia acompanhados pelos seus professores, no entanto, nós éramos dos poucos grupos com sorte por termos uma bela engenheira responsável por nós. A confraternização era excelente, até mesmo entre engenheiros e alunos.A refeição terminou e levaram-nos a conhecer o Funchal. Algumas meninas prestavam-se de guias e enfeitavam as beldades exteriores que íamos observando com as suas palavras, havendo ali naquele autocarro turístico muito engenheiro babado.
Connosco, seguia também uma jornalista, uma bela rapariga de longos cabelos castanhos nos seus vinte e poucos anos. Eu desconhecia que aquele evento de jovens criadores pudesse despertar tanto interesse à impressa, ainda mais a um jornal matinal de grande tiragem, fazendo-se representar por esta jovem atraente.
Enquanto passeávamos nas floridas ruas do Funchal, ela fazendo as suas entrevistas aos engenheiros responsáveis pela gala e no regresso ao hotel, aproximou-se do meu grupo de trabalho.
Olá rapazes! Estou a ver que são do ISEL, muito bem.
Chamo-me Daniela e gostava de falar um pouco convosco.
– disse ela.
Talvez mais logo, temos de preparar melhor a nossa apresentação. – respondeu o Alexandre.
Está bem, não vos roubo este tempinho. – desculpou-se ela.
Não, espera. As coisas já estão prontas.
Penso que uma pequena conversinha não fará mal a ninguém nem ao projecto. – intrometi-me eu.
Olhá lá isso... – dizia o Alexandre, olhando para o relógio.
Tem calma, não te enerves.
Vão lá estudar a vossa parte que eu trato da minha mais logo
– acrescentei, sorrindo.
Como fica então? Se estiver bem assim para vocês...
O Alexandre e o Luizinho subiram para o quarto e fiquei na entrada do hotel com a Daniela.
João, podemos ir para o bar, se não te importas. – disse a Daniela, levando-me para lá.
Bebemos alguns copos de sumo, numa mesinha do bar, enquanto ela ia fazendo a sua entrevista. As nossas palavras eram registadas num gravador que ela tinha posto em cima da mesa e as suas mãos folheavam constantemente um bloco de notas.
Algumas perguntas ultrapassavam em muito o campo científico e o interesse pelo motivo que me tinha trazido à ilha da Madeira, chegavam a tocar na intimidade e eram um pouco indiscretas para a ocasião. Disse tudo o que a jornalista quis saber, não escondi nada, apesar de achar certas questões fora do contexto, mas desconfiei que essas respostas ela fosse guardar só para ela.
A entrevista prolongou-se por bastante tempo, parecia quase um interrogatório policial. O Alexandre telefonou-me entretanto e tivemos de ficar por ali com a nossa conversinha.
Antes de ir ter com os meus colegas, Daniela perguntou-me se poderia jantar e assistir à gala dessa noite na nossa mesa de jantar, de imediato aceitei e fiquei de lhe dar o resto das respostas que ela necessitasse nessa mesma ocasião.
Entrei no quarto do Luizinho, onde estavam a discutir a melhor maneira de apresentar o projecto, a engenheira Isabel já me esperava e ficou pouco contente de eu desperdiçar tempo precioso em entrevistas, e mais gravoso ainda, sendo a jornalista uma morena possuidora de uma grande beleza exótica.
Desculpa Isabel, logo compenso-te. – disse para ela, sem os meus colegas a assistirem.
Ora, João! Temos de manter as formalidades, eles podem ouvir! – interrompeu-me.
Não te preocupes, eles estão demasiado preocupados e entretidos com o trabalhão que lhes destes. – acrescentei, passando uma mão no seu belo rosto.
Espera... vamos para o meu quarto. Lá estaremos mais à vontade.
Acho que preciso de uma massagem para relaxar, também estás qualificado nessa matéria ou terei que te chumbar? – brincava Isabel comigo.
Uma massagem? A menina anda a exigir demais dos seus alunos.
Vamos, anda. Aparece lá daqui a cinco minutos.
– finalizou a engenheira, saindo depois do quarto.
Falei com eles, ia-me ausentar novamente do trabalho, desta vez para prestar assistência técnica à engenheira Isabel. Como esperado, a reacção deles não foi a melhor...
Vais o caralho! Já me estou a passar contigo. – gritava o Alexandre, todo alterado.
O sistema nervoso do rapaz ainda se estava a restabelecer depois dele ter levado um tiro no cú, dois meses antes, e toda aquela ansiedade provocada pela eminente exposição do projecto não lhe estava a fazer bem.
Acalma-te, foda-se! pareces uma gaja com falta de pau e comichão no grelo. – tive de lhe levantar a voz.
Não me demoro, vou discutir uns pormenores do trabalho com a engenheira.
Até já, volto daqui a pouco.
– despedi-me deles.
Isabel deixou a porta do seu quarto entreaberta, entrei surrateiramente e fiz-lhe companhia na cama. Trocámos uns beijos calorosos e algumas carícias. A minha bela engenheira estava tensa, pediu-me que lhe fizesse uma massagem nas costas e satisfiz a sua vontade. Comecei calmamente pelos ombros, humedecendo a sua pele com os meus lábios, antes de passar com o calor das mãos. O seu corpo reagiu de imediato, libertando um calor imenso, começando ela a suspirar a cada toque mais provocante que lhe ia dando.
Tinha de preparar a apresentação do projecto, não poderia deixar aquele fardo somente entregue aos meus colegas. Isabel também sabia disso e como responsável pelo nosso trabalho, pediu-me que parasse e continuasse a massagem noutra altura, combinando um novo encontro naquela noite na intimidade do seu quarto.
Espera, João!
Estou a adorar, mas tens de ir preparar o trabalho...
– disse ela, soltando um pequeno gemido.
Temos tempo, preparei a minha parte em casa. – interrompi-a eu.
Mas não está correcto, eu prender-te aqui e deixares os teus colegas sozinhos. – acrescentou Isabel.
Fico mais um pouco, deixa-me antes tratar de ti. – olhando nos seus olhos e fazendo deslizar a minha mão entre os seus belos seios e parando no clítoris.
Ai...! Pára, não podemos agora! – dizia ela, soltando uns gemidos.
Queres que pare? – perguntei eu, brincando com os dedos no seu clítoris.
Sim... Tens o trabalho...
Cheguei a minha boca junto do seu ouvido.
Sim? Queres mesmo que pare? – disse eu baixinho, estimulando com mais força o seu clítoris e arrastando a outra mão sobre o seu seio.
Sim...
Sim? – voltei a sussurrar-lhe, mordendo suavemente a sua orelha.
Isabel ficou sem palavras, apenas lhe escutava uns suaves gemidos...
Não... Não pares! – começava a Isabel a deixar-se levar pela excitação.
Os seus lábios beijaram os meus e beijei a minha doce engenheira até ela se vir. Não levou muito tempo para que isso acontecesse, ela estava bastante excitada e foi maravilhoso ver o seu belo sorriso e cara de satisfação quando nos despedimos.
O tempo passou a correr, era finalmente hora de jantar. A apresentação dos projectos pelos alunos estava marcada para a ceia, naquele mesmo salão nobre do hotel.
Daniela sentou-se na nossa mesa, criou-se de imediato um certo à vontade da jovem jornalista com todo o grupo. A engenheira Isabel tecia rasgados elogios dos seus pupilos e o gravador que acompanhava a Daniela por todo o lado ia captando toda a nossa conversa.
Reparei mais tarde, quando nos levantámos da mesa de jantar para ir apresentar o nosso projecto à vasta assistência, que esse mesmo gravador se encontrava desligado e sem cassete lá dentro, algo estranho mas que me passou completamente despercebido na altura.
A apresentação foi um sucesso, o nosso robozinho motorizado comportou-se na perfeição e respondeu correctamente a todos os estímulos da nossa voz, deixando toda a plateia rendida às suas capacidades.
Regressámos à mesa, a engenheira agradeceu a colaboração de todos nós e compensou-nos com o calor dos seus lábios. O Alexandre e o Luizinho coraram de imediato e quase se vinham, não era todos os dias que uma bela mulher os beijava. Daniela também gostou do que viu, tanto que arrastou a sua mão por debaixo da mesa de encontro à minha perna. Foi avançando lentamente pela minha coxa, do joelho para a virilha, massajando cada pedaço de mim e ia contando com a minha cumplicidade. Estava a gostar, a sua mão ali agradava-me, mas havia qualquer coisa no meio de toda esta situação que não batia certo. Esta bela jornalista estava a avançar depressa demais, tocava na minha intimidade de maneira indelicada, sem esperar pelo meu consentimento, fazendo-me sentir usado.
Entretanto, recebi uma chamada, a sua mão parou na minha virilha.
Concentrei toda a minha atenção no telemóvel, era a minha Elsinha que me ligava.
A sua voz doce relaxou-me e fez-me aproximar dela, mas senti mais que nunca a sua falta. Era a mão dela que eu gostaria de ter sobre a minha perna e não a desta ilustre desconhecida.
Desliguei a chamada e sussurrei ao ouvida da Daniela para que tirasse a mão de cima da minha perna. Ela ficou relutante em aceitar, mas acabou por me largar segundos depois.
A gala de apresentações continuou sem mais sobressaltos, quando a mesma terminou, subimos aos quartos. Isabel foi ter com os seus colegas engenheiros e mandou-me uma mensagem pedindo que fosse ter ao seu quarto naquela noite. Não sabia se haveria de ir, o simples escutar da voz da Elsa momentos antes tinha sido suficiente para me afastar da tentação das outras mulheres, pelo menos naquela noite. Daniela acompanhou-nos até ao corredor dos nossos quartos e esperou junto de mim que o Alexandre e Luizinho entrassem nos seus respectivos quartos. Ela queria entrar no meu quarto, com o pretexto de querer falar um pouco mais comigo sobre o projecto. Era tarde, disse-lhe que não estava com a mínima disposição para falar sobre aquilo e que me procurasse no dia seguinte. A atraente jornalista continuava a insistir para que a deixasse entrar, parecia desesperada para me arrastar lá para dentro, o seu estado actual de ansiedade chegava a ser patético e não coincidia com a sua beleza.
Algo nela me fez recuar e não partir para mais uma aventura sexual, e não apenas o que sentia pela Elsa era usado como único pretexto para acalmar as minhas hormonas. A forte persistência da Daniela acabou por me cansar e perdi a pica de a comer.
Despedi-me dela, com dois beijos na cara, abri então a porta do meu quarto. Antes de rodar completamente a maçaneta da porta, senti a sua mão na minha braguilha. Estava de costas para ela, não consegui evitar a aproximação brusca dela. Talvez fosse este o seu último acto de desespero, já que não me conseguia levar para a cama com falinhas doces, agarrava-se logo ao caralho e espera que a minha reacção fosse a mais natural possível de um gajo esfomeado por cona.
Mas tudo o que é demais e contra nossa vontade torna-se maçador e inconveniente, se tivesse sido noutra noite e com outro ambiente, talvez a levasse ao castigo, naquela noite ficaríamos por ali.
Daniela, tira daí a mão. – disse eu, calmamente.
Então, João? Onde está o belo rapaz promíscuo que costumas ser? – perguntava ela, massajando-me a gaita.
Promíscuo?! Que mais sabes tu de mim?
Nada... – levou ela algum tempo a responder, abrindo entretanto o fecho das minhas calças.
Explica lá isso melhor! – começava eu a passar-me.
Calma João... fazia ela escorregar uma mão para dentro das minhas cuecas.
Voltei a fechar a porta do quarto e virei-me de frente para ela.
Não calma nada. E tira já daí a mão, foda-se! – gritei eu, agora um pouco alterado.
Está bem, tu é que sabes. – disse ela, em tom de despedida e com cara de desilusão.
Largou-me o caralho e foi embora para o seu quarto, a três portas de distância do meu.
Entrei rapidamente no meu quarto, não fosse ela voltar atrás e decidida a querer acabar aquilo que tinha começado. Confesso que me senti assustado e nada confortável naquela situação. Deitei-me na cama, ainda vestido, por lá fiquei durante uns minutos, reflectindo e tentando relaxar.
Tomei um duche e voltei para a cama, enrolado na toalha e secando o cabelo com as mãos.
Estava imenso calor naquela noite, antes de cair no colchão tinha aberto uma janela do quarto e permaneci deitado a olhar para o tecto, despido por cima dos lençóis e apenas com uma toalha de banho enrolada na cintura.
O telemóvel tocou, quem seria a uma hora destas?!
Deixei o telemóvel tocar, já tinha falado com a minha Elsinha naquela noite e mais nenhuma outra gaja me interessaria, queria mesmo era dormir. O voo de regresso a Lisboa estava marcado para o início da tarde seguinte, não teria de acordar cedo, mas estava extremamente cansado daquele dia agitado.
Fechei os olhos e tentei deixar-me levar pelo sono, queria mesmo adormecer.
Estava difícil, o telemóvel voltava a tocar. Atendi desta vez, era a minha amiga Filipa.
Não falava com esta loirinha linda desde o aniversário do Luizinho, numa festa em casa dele.
Olá João, desculpa se te acordei.
Não, loirinha. Tinha acabado de me deitar.
Estás bom? E por onde andas? – perguntou ela.
Muito bem. Vim apresentar um projecto do ISEL ao Funchal.
Estás sozinho agora? – continuava ela a perguntar.
Sim...
Continuámos a nossa conversinha. Estava ensonado, mas escutava com satisfação a voz dela.
Sabes, hoje lembrei-me de alguns bons momentos que passámos juntos.
Sinto falta desses tempos, João. Que foi que nos aconteceu?
– dizia ela.
Não sei bem linda, ainda hoje não percebo como tudo acabou.
Talvez tenha faltado mais entrega, mais paixão, gostávamos um do outro mas não nos amávamos.
– acrescentei, recordando na minha mente alguns desses bons momentos.
A nossa conversa acabou por ultrapassar as formalidades, entrando com naturalidade numa cumplicidade extrema. As nossas palavras eram agora empregues de modo carinhoso e mesmo sensual, tendo a sua finalidade bem definida.
João... Deixa-me entrar nessa cama e sentir-te junto de mim.
Será? Que farias se eu te deixasse?
– perguntei eu, despertando o meu corpo.
Beijava a tua boca e descia com os meus lábios pelo teu pescoço...
Parece-me tentador, já seria um bom começo.
– interrompi a Filipa, sorrindo.
Lambia o teu peito, todo o teu corpo... Ai que saudades! – continuava ela.
Apetecia-me estar novamente com ela, tocar-lhe no corpo e sentir o seu calorzinho outra vez. O seu doce tom de voz reanimou o meu corpo, senti-me mais relaxado e também feliz. Filipa começou a aquecer, a sua voz tinha-se alterado tal como a respiração. Senti novamente a sua chama acesa e revivemos alguns bons momentos passados muitos meses antes, a minha voz estimulava o seu corpo e o seu calor excitava-me cada vez mais. Ela estava ainda deitadinha na cama e começou a tocar-se, conseguia ouvir as suas mãos a vaguearem pelo seu corpo e os seus gemidos, ainda esporádicos, começavam a aparecer. Recostei-me na cama e acompanhei a sua excitação, também eu me masturbava sentindo a sua presença próxima de mim, apesar da distância que nos separava. A loirinha estava super excitada, o seu corpo completamente a ferver pouco aguentou os seus toques amorosos, veio-se e fez-me vir com ela. Foi bom, um tipo de calor diferente claro mas não deixou de ser agradável. Desliguei o telemóvel, limpei-me na toalha que tinha lançado para o chão e tentei adormecer.
Tinha desligado a chamada há cerca de meia hora, continuava sem adormecer, muito por culpa de toda aquela excitação vivida momentos antes e que agora me despertava um desejo carnal. Se ainda encontrasse a rejeitada Daniela perdida pelos corredores do hotel, que lhe faria? Agora, certamente não escaparia ao castigo.
Levantei-me da cama, vesti um roupão e fui bater na porta do quarto da engenheira Isabel.
Ela estava a dormir, levou algum tempo para me abrir a porta, mas quando o fez, puxou-me de imediato para dentro e deitou-me na sua cama. Os nossos corpos ferviam, acariciava os seus seios e beijava o seu pescoço, enquanto Isabel me despia o roupão.
O momento estava escaldante, a excitação era cada vez maior, mas um pensamento baralhou-me por completo. Uma memória muito recente de algo belo, comecei a recordar o sorriso da Elsa, a sua face, os contornos do seu corpo e a sua voz doce sussurrando-me palavras doces ao ouvido... Tudo aquilo foi demais, não poderia continuar a acariciar a Isabel pensado na Elsa. Tinha a minha enfermeirinha controlando a minha mente em detrimento da engenheira que ia perdendo o controlo sobre o meu corpo.
Pára. – como me custou dizer esta palavra.
Isabel não ouviu, pronunciei-a num tom muito baixo.
Pára, Isabel. Estou apaixonado por outra pessoa. – voltei a repetir.
O que disseste, João? – começava ela a prestar atenção nas minhas palavras.
Desculpa, gosto de outra pessoa e não podemos continuar.
Como? E dizes-me isso agora?!
Desculpa...
E já agora, quem é ela? – perguntou Isabel.
A Elsa.
Descobri-o agora neste momento, gosto mesmo daquela miúda.
A engenheira ficou magoada, saiu de cima do meu corpo despido e sentou-se a meu lado na cama.
João, se estás apaixonado por ela, que fazes agora na minha cama?
O silêncio tomou conta da conversa por alguns segundos...
Exacto! Que faço eu aqui?! – questionei-me eu próprio.
Voltei a vestir o roupão e despedi-me da Isabel, beijando-a na cara e passando a mão pelo seu cabelo loiro.
Finalmente no meu quarto, adormeci mal caí na cama, tinha encontrado a paz de espírito que tanto necessitava.
Na manhã seguinte foi uma correria. Não consegui acordar com o despertador e fui acordado pela senhora das limpezas.
Tínhamos o voo de regresso marcado para o principio da tarde, arrumámos as malas, fizemos o check out no hotel e um autocarro levou-nos rapidamente ao Aeroporto do Funchal.
Vinham outros alunos e engenheiros no mesmo voo que nós, a azafama era grande e a coordenação de tanta gente era uma tarefa complicada. Não tinha tido mais noticias da Daniela, simplesmente desapareceu da minha vida tão rapidamente como tinha entrado, ainda agora não percebo qual seria a ideia dela.
Finalmente chegámos a Lisboa, fui levantar as minhas malas e sabia que teria boleia para casa. O Alexandre estava estranho, passou toda a viagem calado e apenas com um sorriso parvo na cara, o cabrão deveria ter tido sexo na noite passada... seria com quem estaria a pensar? Penso que não, acho que a Daniela não estaria assim tão desesperada. Não ao ponto de se ir entregar nos braços do próximo homem que lhe abrisse a porta do quarto e a deixasse partilhar o seu leito.
Mas algo se passava de diferente com o rapaz, recusou a boleia do pai para ir para casa e disse que já estava servido de boleia. O Luizinho ficou apreensivo, pensava que a sua boleia tinha sido cancelada, mas o Alexandre assegurou-lhe que também tinha arranjado quem o levasse a casa. Ele concordou de imediato e sorriu matreiramente para o Alexandre. Muito misteriosos andavam estes gajos, mas caguei nisso e fiquei feliz por eles, poderia ser que fossem descontrair um pouco depois de tamanha carga de trabalho.
Despedi-me deles e da Isabel, a loirinha corou quando lhe dei dois beijos na cara, junto dos seus lábios, senti uma pequena dentada sua no meu queixo e depois a suavidade da sua língua. O Alexandre e o Luizinho estavam por perto, não dava para darmos muito nas vistas e ficámos por ali.
A Elsa foi-me buscar ao Aeroporto, a minha linda já esperava por mim no seu carro.
O Alexandre e o Luizinho ficaram bem entregues às suas sortes, num recanto qualquer e prometeram telefonar-me mais tarde.
Chegámos a casa dela, ainda antes da hora de jantar.
Estava cheio de saudades do seu corpo, do seu calor e da paixão que sinto quando o acaricio.
Apesar do momento de grande ansiedade, fazemos sempre os possíveis para fazer amor sem stress e rodeados do ambiente ideal. Esta noite não seria excepção. Ainda era relativamente cedo, não estava assim tão cansado da viagem e teríamos todo o tempo inimaginável pela frente.
Tomámos um banho relaxante, banhando cuidadosamente um ao outro para nos libertarmos das tensões do nosso dia. Entrámos no quarto, ainda de toalha enrolada nos nossos corpos. Tinha sido decorado, o ambiente assemelhava-se a um harém de modo a estimular os nossos sentidos. Elsa tinha preparado com dedicação cada pormenor do seu quarto, acendeu algumas velas, espalhou um perfume aromático no ar para lhe dar um toque ainda mais sensual, enquanto eu ia passando as mãos por algumas pétalas de rosa espalhadas pelo quarto. Seleccionou um som calminho e pô-lo a tocar, Mandalay, para combinar com a nossa disposição. Tínhamos já todos os nossos sentidos bem apurados, ainda muito antes do nosso jogo de amor começar.
Sentámo-nos de pernas cruzadas sobre a cama, eu deslumbrava-me com o efeito que a luz do candeeiro fazia no seu belo corpo, ficando cada vez mais apetecível. Apenas então, senti que algo estava a crescer entre nós, começava a ficar de pau feito.
Não queria apressar nada, nesta noite, estava disposto a continuar até quando ambos quiséssemos.
Curvámos os nossos corpos ao encontro do outro, tocámos no coração um do outro e sentimos a energia imensa que nos comandava naquela noite. Passei-lhe a mão na testa e suspirámos...
Trocámos palavras doces de amor, levando apenas os lábios ao encontro do ouvido um do outro. O calor intenso que se espalhava do meu coração para o resto do corpo sugeria que toda aquela paixão contida iria brevemente explodir. Tanta energia sexual que me corria pelas veias e pouco nos tínhamos tocado ainda.
Elsa pediu-me por uma massagem sensual, primeiro com uma luva de pêlo de coelho e mais tarde com um óleo relaxante. Não tínhamos o tempo contra nós, então toquei-lhe docemente e muito calmamente em cada pedacinho do seu corpo. Os seus gemidos iam confirmando como ela estava a gostar da minha atenção. Ela vibrava de paixão, uma poderosa energia orgásmica percorria todo o seu corpo.
O meu estado alterou-se, não estava somente na expectativa e aguardando pela Elsa, passei a mão suavemente pela sua vagina uma ou duas vezes.
A música levava-nos ao nosso próprio estado de transe, sem nada para nos incomodar, apenas escutando Mandalay e o som dos nossos corpos. Continuei com as carícias pelo seu corpo, muito depois de ela pedir por mais. Ela deixara-se levar pelo momento e contorcia o seu corpo nas minhas mãos, confiando nos meus toques.
Elsa imploro-me que me tocasse, como poderia eu recusar-lhe? Ela arranhou suavemente o meu corpo com as suas unhas, beliscou e massajou calmamente até eu estar completamente relaxado e deliciado com os seus toques.
Quando ela colocou a sua boca na minha gaita, pensei que viesse com a mais leve e subtil lambidela. Mas ela sabia o que fazia, avançou calmamente para apreciar completamente cada momento. Estávamos ambos sentindo tudo tão profundamente com todos os nossos sentidos despertos, não apressando nada um futuro orgasmo.
Eu respirava fundo, relaxei, e fazia circular todas aquelas sensações maravilhosas para longe dos meus genitais. Sabia que qualquer outra parte do meu corpo não poderia ejacular, mas sentia nos pés, no peito e na cabeça um calor intenso como se estivesse a vir-me desses pontos. O intenso impulso acabou por acalmar e consegui relaxar enquanto a Elsa me estimulava a gaita. Estranhamente, quanto mais devagar ela estimulava, mais fortes eram as sensações. Não queria que isto acabasse nos próximos segundos, desejava que isto se prolongasse durante horas.
Passado bastante tempo, de gaita dentro da boca da menina, virei-me e tratei de lhe estimular os sentidos da mesma forma que ela tão bem tinha feito comigo. Toquei, beijei e lambi delicadamente a sua vagina, agora bem molhada. Ela teve orgasmos múltiplos com o toque dos meus dedos e depois com a minha língua, cada um deles mexendo comigo por dentro. A sua energia fez-me querer vir com ela. Encurralei a gaita entre as minhas pernas e lá permaneceu dura como pedra, enquanto a Elsa continuava gemendo e lançando o seu calor sobre o meu corpo.
Coloquei a minha boca mesmo no meio das suas pernas, era como se ela estivesse bombeando prazer para dentro do meu corpo. Estávamos ambos bastante excitados e gemendo com tanto prazer que poderíamos ter continuado os preliminares durante toda a tarde, mas como poderia eu resistir a tanta tentação, quando a bela Elsa agarrou no meu cabelo e encostou os seus lábios no meu ouvido...
João, quero-te dentro de mim! – disse ela entusiasmada, mordendo a minha orelha em seguida.
Em vez de lhe saltar logo à animal para cima como as minhas hormonas estavam exigindo, subi calmamente com a boca pelo seu corpo e penetrei a sua vagina. Devagar, devagarinho eu me movia, não tanto para a provocar, mas para apreciar cada pedacinho do seu corpo com intenso prazer e merecida atenção. Com todos os nossos movimentos subtis, conseguimos sentir as pequenas explosões orgásmicas de cada um, semelhantes a poderosos espasmos de um orgasmo mas sem nunca nos virmos.
Parecia que tinha passado uma eternidade desde que caímos na cama e desenrolámos as toalhas dos nossos corpos. Continuava a penetrar a Elsa, agora sentado de pernas cruzadas sobre a cama e ela aninhada no meu colo. As nossas vibrações mexiam completamente com os nossos corpos, tentámos permanecer imóveis, mas as vibrações internas simplesmente nos atraíam cada vez com mais força. Aqueles espasmos que se espalharam pelos nossos corpos eram tão maravilhosos que os deixámos percorrer normalmente o seu caminho, fazendo-nos sentir prazeres até então por descobrir e cada vez mais intensos.
Á medida que conseguia acalmar o meu corpo, de modo a não ejacular, comecei novamente a penetrar a Elsa, tomando ela agora conta dos movimentos. Parecia que o prazer resultante de cada movimento era tão intenso que me poderia ter vindo após qualquer um deles e ficado sexualmente satisfeito, mas tentaria prolongar o máximo possível aquele momento.
Elsa aumentava consideravelmente o ritmo, abraçada a mim e colando os seus seios na minha cara, tentava chegar cada vez mais abaixo no meu colo, sendo a penetração mais profunda. Íamos variando de ritmo, retomávamos algum fôlego, começávamos rapidamente e depois as penetrações iam sendo mais lentas e profundas, controlando a ansiedade e excitação de cada um.
Após cada ascensão a um ponto mais alto de excitação, conseguia controlar-me e a mesma excitação baixava a pique. Depois de um breve momento de relaxamento, recomeçava a penetrar a bela Elsa sem explodir de prazer, estava extremamente motivado a prosseguir com este prazer extremo durante toda a noite.
Chegámos, por fim, a um ponto sem retorno, estávamos bem sincronizados e caminhando para um desfecho mais que aguardado. Cada vez que tentava relaxar o meu corpo, sentia na gaita as poderosas contracções da Elsa. Estávamos demasiado ocupados desfrutando cada momento para nos importarmos há quanto tempo estávamos naquilo e com qualquer outra coisa que nos rodeasse, a não ser nós próprios.
O prazer era infinito, viemo-nos ruidosamente, fazendo vibrar os nossos corpos.
Continuava a tocar o CD de Mandalay, passando agora pela terceira vez na última faixa do mesmo.
Abraçámos os nossos corpos encharcados em suor, exaustos, trocámos carícias e adormecemos.